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HISTÓRIA RESGATADA
Lobby para dar o prêmio de 2002 para a Pastoral da Criança tem carta inédita do físico alemão
Einstein indicou Rondon para o Nobel da Paz de 1925
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em campanha a fim de conseguir o Nobel da Paz de 2002 para a
Pastoral da Criança, o governo federal se deparou com uma preciosidade: uma carta do físico Albert Einstein, escrita em 1925, recomendando ao comitê do prêmio o nome do marechal brasileiro Cândido Rondon (1865-1958).
Einstein redigiu a carta ao comitê do Nobel, sediado em Oslo
(Noruega), a bordo do navio cap
Polonio, depois de uma viagem
de 51 dias pelo Brasil, Argentina e
Uruguai, a maior parte dela passada no Rio de Janeiro.
"Seu trabalho se concentra na
integração de tribos indígenas à
civilização, sem o emprego de armas nem de qualquer tipo de
coerção", testemunhou Einstein.
O físico não encontrou Rondon
pessoalmente. Apenas ouvira falar dele "com grande entusiasmo"
e assistira a um filme sobre o trabalho do explorador, geógrafo e
pacificador Rondon.
A carta, assim como um manuscrito científico escrito por Einstein no Rio, foi encontrada em
1994, em Jerusalém, pelo professor Alfredo Tiomno Tolmasquim,
do Museu de Astronomia e Ciências Afins do Rio de Janeiro.
Tolmasquim fazia pós-doutorado na Universidade de Jerusalém,
onde está guardado o arquivo de
Einstein, quando localizou o
"dossiê Brasil", referente à passagem do físico pelo país em 25, ao
qual os pesquisadores não haviam dado importância.
Com a carta, cujo inteiro teor
permanece inédito, e um texto intitulado "Observações sobre a situação atual da Teoria da Luz",
Tolmasquim localizou o diário de
viagem do cientista, no qual se observa um Einstein antropólogo,
atento "à deliciosa mistura étnica
nas ruas" e à influência do clima
quente e úmido no comportamento humano.
A carta, o manuscrito e o diário
estarão em um livro que o professor Tolmasquim pretende publicar no final do ano, no máximo
no início de 2003. Para o governo
brasileiro, um incentivo a mais
para intensificar o lobby em favor
da Pastoral da Criança.
Com um orçamento de R$ 20
milhões anuais, a pastoral atende
1,6 milhão de crianças até os cinco
anos. Ou seja, cada criança sai por
cerca de R$ 1 por mês, graças sobretudo ao trabalho de 155 mil voluntários. Eles passam conhecimentos mínimos para as mães,
como os cuidados ao cortar o cordão umbilical, a importância do
aleitamento materno e de beber
água não-contaminada.
O governo atribui boa parte da
queda da mortalidade infantil no
país, de 48 por mil nascidos vivos
para 29 por mil nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, ao trabalho da Pastoral da
Criança. Zilda Arns, idealizadora
da instituição, orgulha-se de que,
nas regiões atendidas pela pastoral, o índice é de 13 para cada mil
crianças nascidas vivas. A pastoral internacionalizou-se e hoje já
atua em 14 países.
Inspirado em Einstein, que ganhou o Nobel de Física em 1921, o
governo está tentando o apoio de
outros prêmios Nobel. Já obteve o
compromisso dos timorenses Ximenez Belo e Ramos Horta
(1996), mas o argentino Adolfo
Perez Esquivel (1980) e a nicaraguense Rigoberta Menchú Tum
(1992) já se haviam comprometido com outras indicações.
No próximo dia 10, o governo
lança um carimbo postal em homenagem à Pastoral da Criança.
O passo seguinte do lobby será no
dia 31, quando os presidentes dos
países de língua portuguesa se
reunirão no Brasil. Fernando
Henrique Cardoso vai pedir o
apoio de cada um deles.
Rondon não ganhou o Nobel da
Paz em 25, mas voltou a frequentar a lista dos possíveis indicados
no final dos anos 50. Depois dele,
outro brasileiro chegou a ser
mencionado, o arcebispo d. Hélder Câmara, mas a indicação foi
boicotada pelo regime militar.
Esta é a segunda vez que a Pastoral da Criança é indicada pelo
governo para o Nobel da Paz.
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