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Santana do Livramento perdeu frigorífico e 8% da população
GRACILIANO ROCHA
ENVIADO ESPECIAL A SANTANA DO
LIVRAMENTO
Retrato da estagnação econômica de muitas cidades do
pampa gaúcho, o bairro operário de Santana do Livramento
(RS) -cidade na fronteira com
o Uruguai- transformou-se
em uma vizinhança de aposentados e de casas vazias.
"O coração da cidade parou.
Todo dia alguém vai embora
em busca de trabalho ou estudo", diz Luís Fernando Ramos,
64, morador do Armour, bairro
cujo nome vem do frigorífico
fundado por ingleses em 1902.
Desde que o frigorífico fechou, em 1999, muitos trabalhadores, sobretudo os mais jovens, partiram em busca da sobrevivência em outras cidades.
Ramos tem um filho no litoral
gaúcho e diz perder a conta dos
vizinhos que saíram da cidade.
O colapso da indústria de carnes, que empregava 5.000 pessoas nos anos 90, relaciona-se a
um dos maiores problemas de
Santana do Livramento hoje: a
perda de população.
Segundo o IBGE, a cidade
perdeu 8% da população em oito anos. Em 2000, havia 90.849
habitantes; no ano passado,
83.478. O fenômeno se repete
em outras cidades da região
norte, noroeste e sul do RS.
Outro morador do Armour, o
técnico em construção civil
Cléber Oliveira, 50, diz que a
evasão derrubou o valor dos
imóveis. "Antes, uma casa aqui
valia R$ 50 mil; hoje, não tem
comprador nem pela metade."
Oliveira conta que quatro irmãos foram embora, e suas
duas filhas têm planos de buscar melhores empregos em Caxias do Sul (na serra gaúcha) ou
na capital Porto Alegre.
"Porto Alegre e Caxias são
áreas de intenso magnetismo
populacional, porque são mais
dinâmicas do que o sul do Estado. O núcleo da economia, que
no passado foi agropastoril,
agora está em regiões de indústria diversificada", afirma o
geógrafo Dakir Larara Machado da Silva, da Ulbra (Universidade Luterana do Brasil).
Sem a indústria de carnes, o
PIB de Santana do Livramento
passou a depender do comércio
e dos serviços. Hotéis e restaurantes faturam com pessoas
atraídas pela ausência de impostos nos free shops de Rivera
-cidade uruguaia vizinha.
A mudança do perfil econômico, reconhece o prefeito,
Wainer Machado (PSB), 50,
ainda não foi capaz de devolver
a prosperidade do passado.
Segundo ele, 5.300 famílias
estão no Bolsa Família. Machado já espera uma redução no
FPM (Fundo de Participação
dos Municípios), cujo rateio
tem como critério o tamanho
da população. "A cidade vai
perder R$ 1 milhão por ano.
Vou ter que achar outra fonte."
O prefeito tem três filhos -dois
vivem em Porto Alegre.
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