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ROSEMARIE ERIKA HORCH (1930-2008)
Nos livros, o cheiro das épocas passando
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando a jovem Rosemarie Horch bateu na porta da
Biblioteca Nacional do Rio,
viu que só havia vaga para
limpar os livros. "Para ela, a
convivência com o livro era o
que importava", diz a nora. E
o primeiro registro em sua
carteira de trabalho ficou
sendo como "tarefeira".
Desde menina, Erika "queria porque queria" trabalhar
entre as raridades da biblioteca -adorava histórias de
viajantes e navegadores e
queria ver os originais. Mãe e
pai alemães vieram ao Brasil
para um curso em uma tecelagem. Ficaram, e Erika nasceu e cresceu na floresta da
Tijuca, indo à escola de bonde e namorando de longe a
biblioteca onde seria bibliotecária por muitos anos.
Formada em serviço social
e biblioteconomia, foi trabalhar no então recém-fundado Instituto de Estudos Brasileiros da USP, onde virou
pesquisadora, especialista
em obras raras. Chamada para identificar a autenticidade
de livros antigos, coordenou
o "Bibliotheca Universitatis", catálogo da USP que
elenca os livros impressos
entre os séculos 15 e 16.
Diz a nora que ela foi pessoalmente ver cada obra
-gostava de ver, tocar, cheirar os livros. "No meu tempo
não tinha isso de máscara",
dizia. "Bom é sentir o cheiro
das épocas passando."
Aposentada, fazia quase
um ano que perdera a visão.
Uma amiga é quem lia para
ela, toda semana, os livros de
que mais gostava. Tinha dois
filhos e dois netos. Morreu
de câncer, dia 26, aos 78.
obituario@folhasp.com.br
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