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Doação de órgãos sobe após 3 anos de queda
Índice foi de 6,8 doadores por 1 milhão de habitantes no país no 1º semestre de 2008, contra 5,4 (2007), 5,8 (2006) e 6,4 (2005)
Operação da PF que investiga suposto esquema para burlar fila de transplantes no Rio pode desestimular doações, teme associação nacional
MATHEUS PICHONELLI
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
Após três anos seguidos de
queda, o número de doações de
órgãos subiu no país no primeiro semestre de 2008.
Dado da ABTO (Associação
Brasileira de Transplante de
Órgãos) obtido pela Folha
mostra que o índice nacional ficou em 6,8 doadores por 1 milhão de habitantes nos seis primeiros meses do ano -aumento em relação ao mesmo período de 2007 (5,4), 2006 (5,8) e
2005 (6,4).
Apesar de o número indicar
melhora significativa, a associação estima que vá ocorrer
queda brusca nas doações na
segunda metade do ano, sobretudo em razão de episódios recentes no Rio de Janeiro.
Na semana passada, um médico foi preso pela Polícia Federal na capital fluminense sob
acusação de manipular a lista
de transplantes de fígado e desviar órgãos para fazer cirurgias
em clínicas particulares. Ele foi
solto na tarde de anteontem
-e nega as acusações.
"Neste momento, pode-se
prever que serão punidos os
inocentes, os pacientes em lista
de espera que não farão o
transplante devido à provável
retração nas doações", disse o
médico Valter Duro Garcia,
presidente da ABTO.
Índice "tímido"
Rafael Paim, presidente da
ONG Adote (Aliança Brasileira
pela Doação de Órgãos e Tecidos), concorda que o índice,
que disse ser "tímido em razão
do potencial do Brasil", pode
cair mais devido à operação da
PF, batizada de Fura-Fila.
"Isso gera medo na população. É uma questão sensível.
Ainda mais porque a gente tenta criar uma crença de que a fila
é séria, que não há comércio."
Para Paim, até medidas como
a lei seca deverão contribuir
para redução do índice nos próximos meses.
"O número de doações decorrentes de acidentes de trânsito é muito grande", disse o
presidente da ONG, que afirmou ser a favor da lei. "A gente
é a favor da vida, seja salva pelo
transplante ou por não haver
acidente. Além disso, a quantidade de transplante de fígado
por cirrose é imensa. Bebendo
menos, melhor."
O desempenho dos Estados,
segundo a ABTO, ainda é discrepante. No Rio Grande do
Sul, por exemplo, o índice de
doadores foi de 13,3. Já no
Amazonas, não foi registrada
nem sequer uma doação.
De acordo com Garcia, a meta da entidade é chegar a um índice de 8,5 doadores por 1 milhão de habitantes em três
anos. Na Espanha, por exemplo, a taxa é de 35.
"É importante manter a mobilização para que os avanços
obtidos não se percam com o
que aconteceu [no Rio]. Nossa
meta é que as taxas de doações
cresçam de 1% a 1,5% por ano."
Garcia afirma que medidas
que contribuíram para aumentar o índice no primeiro semestre, como cursos de capacitação
para coordenadores do Sistema
Nacional de Transplantes, deverão ser mantidas.
Atualmente há no Brasil
69 mil pessoas à espera de
transplante de órgãos ou de tecidos-34 mil só para rins.
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