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EDUCAÇÃO
Cursos "inadequados" formam 1 em cada 4 médicos do país
Dados do Enade mostram que 2.600 alunos cursaram faculdades mal avaliadas
Os cursos tiveram notas 1 e 2 em indicador do MEC, que leva em conta uma prova, o perfil do corpo docente e
a satisfação dos alunos
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Levantamento divulgado ontem pelo Ministério da Educação revela que 27 cursos de medicina do país "não têm condições de funcionar", nas palavras do próprio governo.
Nessas escolas, cerca de
2.600 alunos se formam anualmente, o que representa 1 a cada 4 médicos que terminam o
ensino superior na área.
Os cursos mal avaliados tiveram notas 1 e 2 em um novo indicador criado pelo MEC, o
CPC (Conceito Preliminar de
Curso), que vai de 1 a 5. Ele contabiliza desempenho e evolução dos alunos no Enade 2007
(antigo Provão), perfil do corpo
docente (como titulação dos
professores) e a satisfação dos
estudantes, com base no questionário do Enade.
Nos anos anteriores, o ministério considerava apenas o desempenho e a evolução dos universitários na prova.
Em medicina, foram analisados 153 cursos. Apenas quatro
obtiveram a nota 5, que significa "referência na área".
Outras 15 áreas também foram avaliadas, a maioria ligada
à saúde (odontologia, veterinária, fisioterapia, nutrição, entre
outros). Analisou-se ainda
agronomia, zootecnia e tecnologia em agroindústria.
Do total de 3.239 cursos, 25%
obtiveram notas 1 ou 2, grande
parte de instituições privadas, e
21,4% ficaram entre 4 e 5 (1.211
não tiveram nota, por impossibilidades estatísticas).
A Unesp teve o maior número de notas máximas (seis cursos). Por outro lado, a Universidade Estadual Paulista também teve curso mal avaliado
(educação física em Rio Claro,
com conceito 2). USP e Unicamp não participam do Enade, por não concordar com a
metodologia adotada.
Maior universidade do país, a
Unip teve o maior número de
"sem condições": 26 cursos
com nota 2. A Uniban, também
entre as maiores instituições
do país, chegou a ter nota 1.
Para calcular o número de estudantes formados nos cursos
de medicina, a Folha usou o último Censo da Educação Superior, com dados de 2006 -o de
2007 ainda não está disponível.
O ministro da Educação,
Fernando Haddad, disse que,
com base nos novos indicadores, a fiscalização dos cursos
será mais rígida. O próximo
passo será enviar uma comissão de especialistas às instituições que tiraram notas 1 e 2.
O Inep, órgão do MEC responsável pela avaliação, pretende começar as visitas em
um mês. Elas vão verificar se as
condições das escolas diferem
da mostrada pelos indicadores.
Uma das maiores reclamações
das universidades é o boicote
dos estudantes. Caso o conceito continue baixo, o MEC diz
que abrirá processo para analisar o fechamento do curso.
Crítica
"As escolas que tiraram conceito 1 deviam ser fechadas.
Não reúnem a menor condição
para o ensino da medicina", diz
Antonio Carlos Lopes, professor da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo), presidente da Sociedade Brasileira
de Clínica Médica e ex-presidente da Comissão Nacional de
Residência Médica do MEC.
Entidades que representam
instituições de ensino superior
privadas disseram que não são
contrárias a avaliações, mas se
posicionaram contra a criação
do novo conceito de avaliação,
o conceito preliminar, que consideram "improvisado".
"Ninguém critica a avaliação,
que é uma necessidade. A crítica trata da fórmula, do formato
e da metodologia [utilizada no
novo conceito]", afirmou José
Roberto Covac, advogado do
Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior
Particular, que diz reunir 80%
das instituições do setor.
Em nota, o fórum afirma que,
se o Sinaes (Sistema Nacional
de Avaliação da Educação Superior) não for totalmente implementado, instituições de ensino superior "serão obrigadas
a mudar seus projetos para
transformarem-se em cursos
preparatórios sobre Enade".
Colaboraram JOHANNA NUBLAT, da Sucursal
de Brasília, RICARDO WESTIN, da Reportagem
Local, e CRISTINA MORENO DE CASTRO
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