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ANÁLISE
Avaliação não dá selo de qualidade
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
ENTRA EXAME , sai exame, e o diagnóstico do
ensino superior permanece o mesmo: as instituições
particulares, onde estudam
mais de 70% dos alunos, têm,
em média, desempenho pior do
que as públicas.
O dilema que surge a cada vez
que esses resultados são divulgados é o que fazer com um sistema do qual o país se tornou
dependente.
É o setor privado o principal
responsável pela expansão das
matrículas no ensino superior
nos últimos dez anos. Sem ele,
o já vergonhoso percentual de
menos de 10% da população
adulta com nível superior no
país seria ainda menor.
Fechar todos os cursos mal
avaliados agravaria o problema
da escassez de mão-de-obra
qualificada no país. Ceder ao
lobby privado e afrouxar as regras da avaliação apenas esconderia as deficiências que sabemos que existem.
Tampouco deve-se concluir,
a partir dos resultados divulgados, que o setor público é uma
ilha de excelência.
Desde o Provão, exame criado em 1996 pelo governo federal para avaliar os concluintes
do ensino superior, a distribuição das notas repete a mesma
lógica estatística. Sempre haverá um percentual parecido de
cursos com notas altas e uma
proporção semelhante de instituições ruins.
O indicador recém-criado
pelo MEC para avaliar os cursos -que agrega num só índice
dimensões de infra-estrutura
com a nota dos alunos- vai na
mesma linha.
Todos os cursos podem ser
um lixo ou de Primeiro Mundo,
mas, na hora de distribuir os
conceitos, sempre haverá aqueles que ficarão no topo, com
conceitos altos, e os que estarão
na rabeira.
O que a avaliação faz, em resumo, é comparar os cursos, e
não dar a eles um selo de qualidade definitivo.
Se um hipotético selo de qualidade ao ensino superior fosse dado levando em conta a educação
em outros países, pouquíssimas
instituições brasileiras, públicas
ou particulares, se salvariam.
Prova disso é que no último
ranking divulgado pelo jornal
britânico "The Times" nenhuma
universidade do país aparecia
entre as 100 melhores do mundo. As primeiras instituições brasileiras na lista eram a USP, na
175ª posição, e a Unicamp, na
177ª.
A China, país igualmente
emergente e também em processo de expansão do ensino superior, faz melhor: conseguiu colocar três universidades entre as
100 melhores, sendo uma (a de
Pequim) a 36ª.
A avaliação dos cursos superiores não pode retroceder. Os
cursos privados com desempenho ruim têm que ser cobrados
e, em alguns casos, até mesmo fechados. Mas o setor público não
deve, diante de resultados apenas melhores que a média, se iludir. Também a ele vale a regra de
que é preciso crescer, mas com
qualidade.
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