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Governo pune fumante e limita tratamento
Rede pública de saúde não oferece amplo atendimento para quem deseja parar de fumar; fila de espera supera um ano
SP gastou em 2007 mais de
R$ 92 milhões com pacientes tratados de doenças causadas pelo fumo e R$ 3,2 milhões em campanhas e tratamentos
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Os governos federal, estadual
e municipal criam uma série de
leis para restrição ao tabagismo, mas não oferecem atendimento amplo na rede pública
para quem tenta encontrar ajuda para abandonar o vício.
No Estado de São Paulo, por
exemplo, onde há duas leis estaduais aprovadas e outras
duas em tramitação, apenas 50
municípios (dos 645 existentes) possuem equipes credenciadas para atender um público
estimado de 6 milhões de fumantes. A população total estimada é de 41.687.652.
O Ministério da Saúde não
informou quantos municípios
no país possuem equipes.
Essa falta de estrutura provoca filas superiores a um ano
de espera, até mesmo para
quem necessita urgentemente
de tratamento.
"Quando fumo, eu chego a
chorar de medo morrer", disse
a ex-copeira Odete Sinquevi de
Lima, 60, vítima de um infarto,
e que há mais de um ano integra a lista de espera do Incor
(Instituto do Coração).
Dificuldade
Repórter da Folha tentou,
como fumante, participar de
pelo menos um programa na
rede pública de saúde. Conseguiu conselhos padronizados,
informações erradas e ingressar numa fila sem previsão de
atendimento.
"Você ainda conseguiu entrar numa fila. Muitos nem isso
conseguem", disse a psiquiatra
Célia Costa, do grupo de Apoio
ao Tabagista do Hospital A.C.
Camargo (Hospital do Câncer).
Estudo feito por ela com 6.000
fumantes em tratamento
aponta que cerca de 50% precisam de remédio. Todos precisam, porém, de acompanhamento profissional.
"Não dá para a gente achar
que é só chegar e passar uma
receita. O que muitas vezes
acontece. "Toma esse remédio
aqui e boa sorte". Não adianta
nada", afirma.
Segundo médicos ouvidos
pela reportagem estudos apontam que apenas 5% das pessoas
que tentam parar de fumar sozinhas conseguem abandonar
o tabagismo. Com ajuda profissional especializada (e remédio) esse número chega a 45%
em pacientes problemáticos.
"Eu havia tentado duas ou
três vezes sozinho. Conseguia
ficar máximo dez dias. Não
agüentava e voltava", diz o advogado Gino Caracciolo, 41,
que fumou durante 20 anos.
Está há mais de dois anos sem
fumar após participar de programa no Cratod (Centro de
Referência em Álcool, Tabaco e
Outras Drogas) da Secretaria
de Estado da Saúde paulista.
A cardiologista Jaqueline Issa, coordenadora do Ambulatório de Tratamento do Tabagismo do InCor, que atende
cerca de 200 pessoas ano pelo
SUS (Sistema Único de Saúde)
e tem fila de espera de 14 meses, disse que queria, mas não
pode aumentar as vagas, porque o remédio enviado pelo governo federal não é suficiente
nem para o número atual.
"A distribuição é errática. As
gomas (de nicotina) não recebemos há mais de um ano. Bupropiona (antidepressivo) ficamos 6 meses sem receber", diz.
A diretora do Cratod, Luizemir Wolney Lago, também
aponta a falta de remédios para
o número reduzido de vagas.
Diz também que outro problema encontrado é a falta de
comprometimento de parte
dos profissionais em obedecer
às exigências legais e, dessa forma, conseguir credenciamento
para atender. "Como eu vou
tratar alguém no ambiente
com todo mundo fumando?
Não pode", afirmou.
Em 2007, de acordo com levantamento feito pela Secretaria de Estado da Saúde, os pacientes tratados de doenças
provocadas pelo cigarro custaram à rede de saúde mais de R$
92 milhões. O Estado investe
em média, segundo a pasta,
cerca de R$ 3,2 milhões em
campanhas e na manutenção
de seu centro de apoio ao fumante, o Cratod.
No país, são pelo menos R$
338,6 milhões por ano gastos
no SUS, segundo cálculos da
economista Márcia Pinto, da
Fundação Oswaldo Cruz.
Entre as leis tramitando em
São Paulo está a do governador
José Serra (PSDB), enviada à
Assembléia Legislativa no final
do mês passado, que busca
proibir o uso do cigarro em ambientes coletivos fechados
-entre públicos e privados. O
Estado não prevê, segundo o
governador, criar mais programas contra o tabagismo.
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