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Apoio a fumante é necessário, diz médico
Para especialistas, tratamento deve privilegiar pobres; fumante gasta R$ 2 com cigarro e R$ 10 com remédios
DA REPORTAGEM LOCAL
Especialistas no combate ao
tabagismo defendem o apoio
estatal na oferta de tratamento
para quem quiser parar de fumar. Defendem, porém, o acesso da população de renda baixa.
"Não tem cabimento existir
uma lei de restrição se não oferece a mão para o tratamento.
São coisas que tem de andar em
paralelo. Não tem como restringir sem tratar, porque o tabagista é um dependente", disse a cardiologista Jaqueline Issa, coordenadora do Ambulatório de Tratamento do Tabagismo do InCor.
Para a médica, a ajuda é mais
importante para as pessoas pobres porque esse tipo de fumante considera o cigarro mais
barato do que o remédio.
Pela estimativa da pesquisadora, um fumante de baixa renda gasta entre R$ 1 e R$ 2 por
dia com cigarros. O tratamento
custa de R$ 5 a R$ 7, similar ao
tratamento do SUS, e R$ 10 ao
dia, pelo remédio dos atendimentos privados (Vareniclina).
"Só que ela [a pessoa] não
tem como financiar a diferença
desse valor. R$ 1 ou R$ 2 ela
tem, mas na farmácia não vai
gastar R$ 7 por dia. Vai ter que
comprar o mês, ou semana de
tratamento. Tem impacto econômico substancial", afirmou.
A médica também diz que as
recomendações dadas pelo Ministério da Saúde por telefone
-chupar bala e mascar chiclete- são uma demonstração da
existência de técnicas desatualizadas no auxílio ao fumante.
"Isso existia quando não se
conhecia a dependência. Hoje,
sabe-se como os receptores cerebrais funcionam. Quem não
entende isso, o nervosismo, a
ansiedade, não pode combater
o tabagismo. Não dá para encarar nesse aspecto: "Respira fundo, conta até dez que passa -a
vontade vem, mas depois passa." Depois de quanto tempo?
Isso é um papo idiota", disse.
Pesquisa da psiquiatra Célia
Costa, do grupo de Apoio ao Tabagista do Hospital A.C. Camargo (Hospital do Câncer),
aponta que 50% dos pacientes
acompanhados precisam de remédio -30% deles sofrem dependência relativa e 20%, dependência grave.
Sem o acompanhamento
médico, segundo Célia, o tratamento não é eficaz. "Não adianta a gente chegar e dizer que
precisa parar de fumar sem
darmos condições para isso.
Estamos falando de dependência, a dificuldade que é a pessoa
parar por sua conta. Há necessidade de suporte", afirmou ela.
Célia considera que a falta de
centros de auxílio na capital
atrapalha a progressão da queda no número de fumantes. "Os
estudos falam em seis meses
nesse processo da pessoa decidir parar de fumar. Quando a
pessoa decide, não tem onde
[recorrer]. A pessoa tende a desistir mesmo", afirmou ela.
A médica disse que o correto
seria haver equipes especializadas em todas as unidades de
saúde. "Deveria ser oferecido
em todos os postos de saúde,
uma coisa muito básica. Básico
e simples. Se pensarmos que a
longo prazo isso pode determinar o desencadear de uma série
de doenças, aí assim nós vamos
precisar de gastos e de atendimentos mais especializados",
afirmou Célia.
O psiquiatra Arthur Guerra
de Andrade, presidente do Grea
(Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas) do
Instituto de Psiquiatria do HC
(Hospital das Clínicas), disse
que o tabagismo precisa ser visto como um problema de saúde. "Tabagismo é uma doença.
Não é falta de caráter nem de
vontade", afirmou ele.
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