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Condenado indevidamente, Mateus de Jesus Machado foi encarcerado duas vezes e ficou um ano e quatro meses na cadeia
Cobrador foi preso no lugar de um primo
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a despreocupação de
quem não deve nada, o cobrador
de ônibus Mateus de Jesus Machado, 40, aceitou sem reclamar o
convite de um oficial de Justiça
que, sozinho, bateu na porta de
sua casa e pediu que ele o acompanhasse até o distrito policial
mais próximo para verificar um
"pequeno problema".
No caminho do distrito, Machado lembrou do primo que morou
de favor dois meses em sua casa e
depois sumiu com seus documentos. Ingênuo, o cobrador de
ônibus pensou que, se fosse um
crime, as vítimas ou testemunhas
poderiam atestar sua inocência e
ele logo voltaria para casa.
Grande engano. Machado foi
direto para a carceragem do 38º
DP (Vila Amália), zona norte de
São Paulo. Pai de três filhos adolescentes, ficou preso por um ano
e quatro meses por crimes que
não cometeu, segundo decisões
judiciais que já o inocentaram.
Saiu da cadeia em junho passado.
Quando Machado chegou ao
38º DP, não havia vítimas ou testemunhas no distrito, como ele
pensava. Ele já estava condenado
pela Justiça a dois anos e oito meses por furto e tentativa de roubo
em Várzea Paulista (63 km de SP).
Mas o verdadeiro criminoso era
o primo, que colocou sua foto na
cédula de identidade de Machado
e a apresentou ao ser preso. Depois disso, o primo foi libertado,
mas o Ministério Público recorreu e a sentença foi fixada em dois
anos e oito meses.
"Eu falava que era o meu primo,
mas os policiais só davam risada.
Diziam que na cadeia todos falam
que são inocentes", afirmou Machado. Condenado ao regime semi-aberto, ele ainda ficou cinco
meses fechado na carceragem do
distrito à espera de vaga, em 1998.
"Dormia no chão, passava frio.
Eram quarenta presos em uma
cela de quatro por quatro metros", lembrou ele.
Depois foi transferido para
Mongaguá (litoral paulista). Ficou mais três meses no regime semi-aberto até que, em uma saída
autorizada para o Dia dos Pais,
não voltou mais. Sem outro lugar
para ir, voltou para casa.
Um mutirão da PAJ (Procuradoria de Assistência Judiciária)
descobriu o caso de Machado, segundo a procuradora Rosana Arruda Bonomo, que atuou no processo. A PAJ alegou inocência do
cobrador, só que a decisão judicial o inocentando só saiu em
2001. Se não tivesse fugido, ele teria cumprido toda a pena.
Foragido, Machado não ficou
sabendo que, para a Justiça, a história já estava esclarecida. Só que,
por outro erro, essa informação
não foi repassada ao IRGD, e em
sua folha de antecedentes ele ainda constava como foragido.
Em novembro de 2002, mesmo
com a decisão do juiz que o inocentou, Machado voltou a ser preso. Passou oito meses fechado na
carceragem do 38º DP.
Hoje, sem conseguir emprego,
Machado faz bicos como servente
de pedreiro. "Foi um inferno. Vi
muitos presos apanharem de outros por causa de rixas e de facção", disse.
"Ele simplesmente foi jogado na
cadeia e deixado lá", afirmou o
advogado Aldo Soares, que pretende entrar com uma ação por
danos morais contra o Estado.
(GILMAR PENTEADO)
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