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Vacas têm direito a pôr-do-sol e música ao vivo
DA REVISTA
Imagine uma fazenda onde galinhas vivem soltas, só comem alimentos sem aditivos químicos ou
agrotóxicos e recebem tratamento homeopático. Ou outra em que
as vacas têm direito a vista panorâmica e até música ao vivo.
Não, não se trata de nenhuma
continuação do filme "A Fuga das
Galinhas" ou aventuras do gênero, em que os animais são os protagonistas. Esse tipo de propriedade rural existe, embora seja raríssima no Brasil. São fazendas
destinadas à produção de ovos e
leite "verdes", supostamente isentos de contaminação química e
com métodos de produção que
respeitam o ambiente.
Na fazenda Luiziania, em Entre
Rios de Minas, as cem galinhas
poedeiras vivem soltas numa área
de 5.000 m2, comendo capim e insetos, além de milho e sobra da
horta. Cada uma tem seu poleiro
e, se adoece, é tratada com homeopatia e fitoterapia, segundo a
dona da fazenda, Iara Rolim, 53.
As galinhas produzem em média quatro dúzias de ovos orgânicos por dia. "Pode ser considerado pouco pelo número de aves,
mas aqui elas não vivem numa linha de produção", explica. Outro
exemplo é a Estância Demétria,
em Botucatu (SP), onde 40 vacas
da raça girolanda acordam ao
som de flauta antes de serem ordenhadas. Há duas áreas especiais
de pastagem, uma arborizada
"para garantir ar puro e relax" e
outra com vista para o pôr-do-sol.
"Não somos só nós, humanos,
que precisamos de uma belo visual para mudar o nosso astral",
diz o administrador da fazenda,
Paulo Roberto Rodrigues Cabrera, 46. "Melhora a qualidade de vida dos animais e, conseqüentemente, a qualidade do leite."
Não dá para afirmar que realmente o "astral" influencie a qualidade dos produtos "verdes",
mas não há dúvida de que infla
-e muito- o preço. Na Luiziânia, cada dúzia de ovos é vendida
por R$ 5, praticamente o dobro
do ovo comum. Na Demétria, um
litro de leite sai por R$ 2,50, contra
os cerca de R$ 1,30 do longa vida.
Apesar disso, a produção e o
consumo de orgânicos não param
de crescer. No exterior, ela já chegou a produtos industrializados,
passando por papinha de bebê e
até ração de gato e cachorro.
Das 700 propriedades certificadas pelo IBD (Instituto Biodinâmico), de Botucatu, apenas 55 fazendas em todo o país se dedicam
a carnes e ovos orgânicos.
O IBD é a única certificadora
100% brasileira monitorada por
quatro organizações estrangeiras,
entre elas o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) e o
Ifoam, que regulamente o movimento orgânico internacional.
A partir de abril, não só o número de fazendas deve crescer, como
a diversidade de produtos. O Ministério da Agricultura está definindo as empresas que serão autorizadas a certificarem os produtos orgânicos com base em uma
lei sancionada em dezembro.
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