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EDUCAÇÃO
Segundo educadores, é necessário tratar de forma diferenciada as crianças de seis anos que entram no sistema
Aluno pode ser prejudicado, diz especialista
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO
A ampliação do ensino fundamental para nove anos pode trazer prejuízos para a criança caso
as escolas não tratem de forma diferenciada os alunos que passarão
a entrar aos seis anos de idade no
sistema, segundo educadores e
médicos ouvidos pela Folha.
De acordo com a orientação da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o ensino fundamental recebe, em tese, alunos a partir dos
seis anos de idade. No entanto, segundo o Censo 2000 do IBGE,
17% das crianças de cinco e seis
anos -de um total de 4,9 milhões
nessa faixa etária- que estudavam em 2000 já estavam matriculadas no ensino fundamental, em
vez de estarem em escolas de educação infantil, direcionadas a alunos de zero a seis anos.
A educadora Elvira de Souza Lima, pesquisadora e consultora internacional de educação, muitas
prefeituras no Brasil estão aceitando crianças que completam
seis anos nos meses de junho ou
dezembro do ano letivo.
Isso faz com que crianças de
cinco anos dividam a mesma sala
com alunos de seis e sete anos.
"Essas crianças estão em fases diferentes do desenvolvimento motor e emocional", diz o pediatra
Pedro Paulo do Amaral Correa.
Aos cinco anos, por exemplo, as
crianças não estão com a fala totalmente desenvolvida e mal
aprenderam a segurar os talheres.
Já as de sete anos têm domínio total dessas habilidades. As de cinco
ou de seis anos também adoram
pular, imitar as pessoas, brincadeiras que as crianças de sete
anos, em geral, já deixaram para
trás. "Elas podem virar motivo de
chacotas dos alunos maiores."
As sequelas emocionais dessas
brincadeiras, segundo Correa, são
imprevisíveis. Dependem das características individuais de cada
criança e de como os pais as acolhem. O risco, afirma o pediatra, é
que esses alunos se sintam fracassados e desistam de se aventurar
em novas atividades.
O despreparo dos professores,
que não têm treinamento em educação infantil, é um outro fator
preocupante. Para Elvira Lima, é
preciso que o MEC dê a essas
crianças acesso a uma educação
adequada, que respeite os seus limites físicos e emocionais. "A
criança tem que ser tratada de
acordo com a idade dela."
Repetência
Outro alerta dos especialistas é
que a entrada aos seis anos de idade no sistema de ensino fundamental pode jogar a criança precocemente no ciclo nocivo da repetência no Brasil. Dados do Ministério da Educação mostram
que, em 2000, a taxa de repetência
na 1ª série do fundamental era de
36,2%, índice superior ao verificado em todas as demais séries.
Além de correr o risco de enfrentar a repetência, a criança de
seis anos pode também não se
adaptar ao sistema formal do ensino. "A idéia [de ampliar o ensino fundamental] é muito boa. Os
países mais avançados já fazem isso. Aos seis anos, a criança vive
uma etapa de transição muito forte e começa a construir os rudimentos de um raciocínio mais
abstrato, algo que não fazia até
cinco anos", afirma Regina de Assis, especialista em educação infantil e ex-secretária de Educação
do município do Rio.
A educadora explica que essa fase é favorável ao desenvolvimento
cognitivo, em que a criança passa
a ter mais facilidade para lidar
com a linguagem, a escrita, a leitura e a interpretação. Ela também
começa a entender os mecanismos das operações matemáticas.
Ela faz um alerta, no entanto, de
que todo esse potencial pode ser
subaproveitado ou desperdiçado
caso a escola não respeite os limites da idade do aluno.
Para a pesquisadora Fulvia Rosemberg, da Fundação Carlos
Chagas e da PUC-SP, municípios
que já recebem crianças de seis
anos no ensino fundamental estão registrando um alto índice de
reprovação na 1ª série.
Velhas aspirações
Na opinião de Hélio Bizzo, vice-diretor da Faculdade de Educação
da USP (Universidade de São
Paulo), a ampliação vem ao encontro de velhas aspirações dos
educadores, mas precisa ser bem
estruturada. É fundamental, segundo ele, que haja investimento
na formação docente -inicial e
continuada- tanto no ensino
fundamental quanto no médio.
Ele afirma que hoje há dois
grandes funis no ensino fundamental, a 1ª série e a passagem para a 5ª série, que emperram o fluxo escolar. "São períodos em que
as crianças sofrem com as mudanças e repetem de ano. É um
grande choque. Isso precisa ser
quebrado", afirma.
Para ele, as experiências de
transformar o ensino fundamental em três ciclos de três anos têm
surtido bons resultados no desempenho escolar.
No ensino médio, segundo ele,
o problema é outro: há problemas
de acesso, em razão da grande demanda, e falta de professores qualificados, o que repercurte negativamente no aprendizado do aluno.
(CLÁUDIA COLLUCCI E ANTONIO GÓIS)
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