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ENTREVISTA
Médica defende parto sem corte cirúrgico na vagina
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Episiotomia é um corte cirúrgico feito na lateral da vagina, na
hora do parto, supostamente para
facilitar a passagem do bebê. O
bisturi corta músculos, nervos e
vasos da vulva e da vagina, que em
seguida são costurados. Em geral,
sem nenhuma anestesia.
A Organização Mundial da Saúde considera que em menos de
10% dos partos vaginais a episiotomia seria necessária. No Brasil e
em toda a América Latina, ela é
feita de rotina, na grande maioria
dos nascimentos.
Na quinta à noite, dia 12, na Câmara Municipal de São Paulo, a
Rede pela Humanização do Parto
e do Nascimento, Rehuna, lança
uma campanha pela redução das
episiotomias desnecessárias. No
manhã seguinte, no Conselho Regional de Medicina, a campanha
tenta convencer os médicos de
que o procedimento só provoca
dores, complicações para a saúde
e danos para a vida sexual da mulher. "Os médicos fazem por desinformação, não por mal.
Acham que assim evitam o afrouxamento vaginal que o parto provocaria, o que não é verdade", diz
Simone Diniz, doutora em medicina preventiva e membro da
coordenação estadual da Rehuna.
A crença de que a vagina se alarga com a passagem do bebê e que
o prazer sexual, especialmente do
homem, dependeria de um orifício estreito, está arraigada entre
leigos e médicos, afirma Diniz.
Não por acaso, os pontos que o
médico obstetra dá para fechar o
corte da episiotomia é chamado
de "ponto do marido".
Abaixo, trechos da entrevista
concedida pela médica:
Folha - A episiotomia é utilizada
desde o século 18 e ainda hoje ensinada nas escolas médicas e praticada em hospitais considerados de
referência. Por que isso?
Simone Diniz - Hospitais maternidades como o Santa Marcelina e
o Ipiranga, de São Paulo, dirigidos
por médicos que defendem o parto humanizado e condenam a episiotomia, têm um índice de mais
de 40% desse procedimento. A
cada novo profissional que chega,
há resistência, afirmam seus diretores. Em muitos hospitais públicos, a porcentagem de episiotomia chega a 90%. A prática só é
pouco frequente nas maternidades privadas, e tão somente porque o número de cesáreas costuma ser muito alto. No entanto, na
medicina baseada em evidências,
não há nada que comprove possíveis benefícios desse procedimento. A musculatura pélvica, tanto
da vagina como do controle da
bexiga, pode ser preservada e
aperfeiçoada por meio de exercícios, sem auxílio de cirurgias. A
episiotomia é necessária em raros
casos, e mesmo nesses poderia ser
resolvida com a mãe ficando em
posição vertical.
Folha - A episiotomia tem custo?
Diniz - Um estudo publicado em
2002 estimou em US$ 134 milhões
as perdas hospitalares apenas
com esse procedimento, sem falar
nas suas consequências e frequentes complicações. E sem contar a dor intensa e o desrespeito
aos direitos reprodutivos e sexuais femininos. A integridade
corporal é um dos direitos humanos da mulher, que nesse caso é
totalmente desrespeitado.
Da campanha que estamos lançando agora também participará
a Rede Latino-Americana e do
Caribe pela Humanização do Parto e do Nascimento. A América
Latina é o continente que mais resiste a abolir essa prática. Nos
EUA, onde se fazia a episiotomia
em todos os partos vaginais, o índice já caiu para menos de 50%.
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