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Fim da gordura trans é voltar à época da banha, diz indústria
Associação dos fabricantes ironiza proposta do Ministério da Saúde de eliminar esse ingrediente dos alimentos
A Organização Mundial da Saúde recomenda que um adulto não consuma mais que dois gramas de gordura trans por dia
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
As indústrias rechaçam qualquer prazo para eliminar a gordura trans dos alimentos consumidos no país. O presidente
da Abia (Associação Brasileira
das Indústrias da Alimentação), Edmund Klotz, reage com
ironia ao comentar os planos
do Ministério da Saúde de ver,
em pouco tempo, o Brasil livre
da mais danosa das gorduras.
"Se for fixado um prazo para
acabar com a gordura trans, vamos ter de criar porco de novo e
voltar à velha banha", afirma
Klotz. "Ainda não temos nada
com um resultado final parecido com o dessa gordura."
Neste ano, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão,
convocou os fabricantes e defendeu o modelo do Canadá,
que deu três anos para que o ingrediente fosse banido.
"A nossa vontade é que, num
curto prazo, nós possamos estar com 100% dos alimentos
comercializados no Brasil sem
gordura trans", afirmou.
O empenho do ministro se
justifica pelos gastos com o tratamento dos brasileiros que comem mal. Cerca de 168 mil pessoas foram hospitalizadas em
2007 em decorrência de acidente vascular cerebral -uma
das conseqüências do colesterol alterado-, o que custou R$
118 milhões aos cofres públicos.
Sem tempo
A indústria reagiu dizendo
que os três anos são um prazo
curto demais. "A substituição
demanda testes e desenvolvimento de fórmulas", afirma Fabio Acerbi, diretor de assuntos
corporativos da multinacional
Kraft Foods.
Já há alternativas para a gordura trans, como os óleos de girassol e de palma. O problema é
que são mais caros e não são
produzidos em grande escala.
"E ainda temos o desafio de
manter o sabor. Se você está
acostumado com o seu biscoito
e de repente sente um gosto diferente, você muda de marca",
diz Acerbi.
A gordura trans é ingrediente
de boa parte dos alimentos industrializados. Está nos biscoitos, nos sorvetes, nas margarinas, nos requeijões, nas frituras, nos salgadinhos e até nas
misturas para bolos.
Surgiu como uma alternativa
-acreditava-se- mais saudável à gordura animal, por ser
obtida de óleos vegetais. A gordura animal aumenta o LDL (o
colesterol ruim) no sangue.
Mais que isso, a nova gordura
foi amplamente adotada por
ser pastosa, quase sólida, e não
líquida. É o atributo que deixa a
margarina cremosa e o biscoito
crocante. Além disso, aumenta
o prazo de validade e deixa o sabor mais agradável.
Alerta vermelho
Nos anos 90, porém, estudos
científicos descobriram que a
gordura trans é extremamente
prejudicial à saúde. Mais até
que a gordura animal. Além de
aumentar o LDL, reduz os níveis de HDL (o colesterol bom).
A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que
um adulto não consuma mais
que dois gramas de gordura
trans por dia -quantidade que
se alcança comendo três biscoitos recheados de morango.
Diante dos malefícios, a própria indústria tratou de reduzir
os teores. No Brasil, o grande
movimento se deu em 2006,
depois que a Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) tornou obrigatória a indicação, nas embalagens, da
quantidade de gordura trans.
Foi então que os brasileiros se
deram conta dos excessos.
"Dois ou três anos atrás, estivemos no consumo máximo de
gordura trans. Agora a indústria está cautelosa", afirma a
nutricionista Liandra Freitas
Marquez Bernardes, da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais.
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