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"Ninguém está querendo envenenar ninguém, também somos população"
Juca Varella - 26.jan.99/Folha Imagem
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Edmund Klotz, presidente da Abia
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da Abia (Associação Brasileira das Indústrias
da Alimentação), Edmund
Klotz, afirma que os fabricantes concordam que é preciso tirar a gordura trans dos alimentos, mas não aceitam que o governo imponha prazos.
No entanto, Klotz diz não ter
certeza se a gordura trans realmente é prejudicial à saúde. "A
ciência pega um monte de rato
e enche de margarina, o bicho
morre entupido e conclui-se
que a gordura trans faz mal."
A seguir, trechos da entrevista à Folha.
FOLHA - A indústria está comprometida com a eliminação da gordura trans dos alimentos?
EDMUND KLOTZ - Não é questão
de compromisso. É questão de
possibilidade. Estamos fazendo pesquisas para encontrar
uma alternativa à gordura
trans. Não há a menor resistência de nossa parte. O que há é a
impossibilidade de pararmos
de usá-la neste momento por
falta de alternativas.
FOLHA - Mas já existem alimentos
sem gordura trans, não existem?
KLOTZ - Existem soluções parciais, como o óleo de alpiste e o
de palma, mas eles não estão
disponíveis em quantidade suficiente. Antigamente, a gordura animal era usada em tudo.
Com o passar do tempo, descobriu-se que a banha era algo
pesado. Foi então que surgiram
as gorduras vegetais [que dão
origem à trans]. Só que a passagem da banha para a gordura
vegetal levou 40 anos.
FOLHA - Algum dia não haverá
mais gordura trans nos alimentos?
KLOTZ - Ninguém pode dizer
que vai acabar. Só se mandarem os bois, as vacas e os porcos embora do Brasil. Faz
5.000 anos que se usa gordura
trans. Ela está nos animais. A
questão é trocar a gordura
trans vegetal. Agora, falar em
termos gerais da gordura trans
como se fosse o grande veneno... Então estamos comendo
veneno desde os nossos antepassados. Fez mal?
FOLHA - Os médicos e os cientistas
asseguram que é prejudicial.
KLOTZ - A ciência pega um
monte de rato e enche de margarina, o bicho morre entupido
e conclui-se que a gordura
trans faz mal. Pode até fazer
mal, eu não sei. Mas a gordura
trans animal faz parte, nosso
organismo está acostumado a
metabolizá-la. Nós [a indústria
de alimentos] também somos
população, comemos os alimentos. Ninguém está querendo envenenar ninguém. Mas
hoje não dá para falar em prazo.
FOLHA - A idéia do governo era que
a gordura trans fosse eliminada em
três anos, como foi no Canadá...
KLOTZ - Brasil é uma coisa, Canadá é outra. Imagine quando
tempo leva para descobrir um
produto, aprová-lo, conseguir a
matéria-prima em quantidade
suficiente, encontrar gente disposta a plantar e a pôr dinheiro
nesse negócio.
FOLHA - A indústria, então, não
aceita o prazo de três anos?
KLOTZ - Se for fixado um prazo,
vamos ter de criar porco de novo e voltar à velha banha. Somos como as montadoras de
automóveis. De repente as
proíbem de usar ferro nos carros, porque faz mal, dá câncer...
Vão usar o quê? Cola, chiclete?
Esse é o drama.
FOLHA - O governo entendeu?
KLOTZ - Estão caindo na real.
Representamos [a indústria de
alimentos] um terço do PIB
[produto interno produto], somos responsáveis por 60% do
superávit da balança comercial. Temos de pesar as conseqüências. Está-se brincando
com opiniões cretinas.
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