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Não houve falha, afirma juíza que tirou meninos de abrigo
Para ela, não havia como prever "monstruosidade" contra irmãos achados mortos e esquartejados
Pai e madrasta estão presos acusados do crime, que aconteceu na sexta-feira passada em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo
KLEBER TOMAZ
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A juíza que autorizou os dois
garotos assassinados na noite
da última sexta-feira em Ribeirão Pires (Grande São Paulo) a
voltar a morar com a família,
após nove meses em um abrigo,
disse que não havia "indícios"
para prever a "monstruosidade" de que eles seriam vítimas.
O pai e a madrasta dos dois
meninos, Igor Giovani, 12, e
João Vítor, 13, estão presos
acusados de matá-los e esquartejá-los. Os corpos foram encontrados em sacos de lixo em
frente à casa da família.
"Não teve falha do Estado. É
uma monstruosidade tão grande que escapa da capacidade de
previsão", afirmou à Folha Isabel Cardoso da Cunha Lopes
Enei, da Terceira Vara da Comarca de Ribeirão Pires.
Abalada com a notícia da
morte dos irmãos, a juíza defendeu a decisão de devolvê-los
ao convívio familiar no começo
deste ano, após obter laudos de
psicóloga e assistente social,
sob a alegação de que a permanência no abrigo deve ser provisória, que a relação do pai e
da madrasta com eles havia
melhorado e que ambos mantinham uma boa estrutura.
"O abrigo é lugar provisório,
não um depósito. Eles [o pai e a
madrasta] não tinham vícios e
estavam empregados", disse
Enei, que, há um mês, encontrou ambos numa audiência e
que a madrasta havia expressado sinais de afetuosidade.
Dois dias antes do crime, as
crianças haviam sido levadas à
delegacia por um guarda-civil
que as encontrara abandonadas na rua. O conselho tutelar
foi acionado, mas elas acabaram devolvidas à família.
A madrasta dos meninos,
Eliane Aparecida Rodrigues,
36, contou à polícia que seu
marido, João Alexandre Rodrigues, 40, asfixiou os garotos
com sacos plásticos e admitiu
ter ajudado a queimá-los e esquartejá-los com uma foice. Os
sacos com pedaços dos corpos
foram achados por lixeiros.
A relação conflituosa dos
meninos com a família dura
mais de três anos. A mãe deles
saiu de casa. Eles chegaram a
viver com uma tia, depois foram para a rua e, em seguida,
foram morar com o pai e a madrasta, quando reclamavam de
agressões e maus-tratos.
Segundo a juíza Enei, eles
"tinham um comportamento
difícil" devido aos "hábitos adquiridos na rua" e a convivência familiar ficou cada vez mais
"conflituosa", levando à internação dos irmãos no abrigo.
Dias depois, ela ainda cogitou devolvê-los à família, mas
foi demovida pela recusa dos
meninos e a avaliação de conselheiros tutelares e funcionários do abrigo Novo Rumo.
Enei afirma que a resistência
deles em conviver com a família foi atenuada nos meses seguintes. No fim de 2007, foi feito um teste de 30 dias, quando
eles ficaram na casa do pai.
"Na volta dessas férias, eles
contaram coisas boas e disseram que queriam voltar a morar com ele", disse a juíza, que
liberou, então, a saída dos meninos em janeiro deste ano,
mediante acompanhamento
psicológico e avaliação social.
Uma das certidões do processo diz que eles "manipulavam a realidade para contemplar seus desejos pessoais".
Enei afirma que não foi essa a
razão para autorizar a saída dos
irmãos do abrigo.
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