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VIOLÊNCIA
Estudo patrocinado pela OMS mostra que brasileiras são menos submissas que japonesas, tailandesas e peruanas
80% das paulistanas agredidas revidam
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de 80% das mulheres
paulistanas que levam socos, pontapés, tapas e empurrões de seus
parceiros reagem atirando objetos, atacando-os com chutes e até
jogando sobre eles panelas com
água quente. Entre as mulheres da
Zona da Mata pernambucana que
sofrem violência doméstica, 63%
também reagem fisicamente.
A mulher brasileira que apanha
do marido está entre aquelas que
mais revidam. Um estudo internacional cujos resultados estão
sendo divulgados revela que japonesas, peruanas e tailandesas são
muito mais submissas diante da
violência. Três outros países ainda estão sendo estudados.
"O índice de revide das mulheres estrangeiras ainda não foi oficialmente divulgado, mas está
muito abaixo do nível de reação
da brasileira", disse Lilia Schraiber, uma das coordenadoras da
pesquisa no Brasil. Em agosto, as
pesquisadoras se reuniram em
Washington e puderam comparar os números de cada país.
Enquanto no Brasil entre 22% e
24% das mulheres nunca tinham
relatado a violência a ninguém,
nos outros países mais de 30% se
calam completamente.
Entre as mulheres pesquisadas,
a brasileira também é a que mais
toma a iniciativa de agredir. Entre
as que relataram violência, 25%
delas em São Paulo e 16% em Pernambuco admitiram que já tomaram a iniciativa de agredir. "Mas a
violência do homem é sempre
mais grave, mais frequente e
quem sai machucada é sempre a
mulher, mesmo quando revida",
diz Ana Flávia Lucas d'Oliveira,
outra coordenadora da pesquisa.
Pelo estudo, 29% das mulheres
de São Paulo e 37% das moradoras de 15 cidades da Zona da Mata
em Pernambuco relataram episódio de violência física ou sexual
cometido por parceiro ou ex-parceiro. O Peru tem um resultado
duas vezes maior do que a média
desses dois índices. A Tailândia
empata e o Japão fica abaixo.
No Brasil, as pesquisadoras visitaram 4.299 domicílios e entrevistaram 2.645 mulheres entre 15 a
49 anos. O estudo foi patrocinado
pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) e conduzido pelo
Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina
da USP, com o apoio do Coletivo
Feminista Sexualidade e Saúde,
de São Paulo, e SOS Corpo, Gênero e Cidadania, de Pernambuco.
"O revide é a resposta daquelas
em situação de violência", diz Ana
d"Oliveira. "É a estratégia da realidade, especialmente entre as menos escolarizadas."
Nos grupos focais, onde as mulheres relatavam o que sentiam,
muitas incentivavam a reação.
"Umas diziam: "As mulheres apanham porque aceitam; quando
você leva um tapa, tem que revidar, senão vira sem-vergonhice.'"
Uma das propostas da pesquisa
é tirar a "violência do âmbito privado e mostrá-la como um problema amplo que precisa ser tratado dentro das políticas públicas", diz Lilia Schraiber.
Por exemplo, entre as que relataram agressões, 40% das paulistanas e 54% das mulheres da Zona
da Mata responderam "não"
quando questionadas se haviam
sofrido violência. Significa que
boa parte delas não têm a percepção de que estão sendo agredidas.
As agressões são mais frequentes entre aquelas com menor escolaridade e as que vêm de famílias com violência.
O estudo mostra também que as
agressões em casa provocam vários danos à saúde da mulher e
afetam seriamente as crianças.
Entre as mulheres, tanto de São
Paulo como da Zona da Mata,
aquelas que sofreram violência
relataram de duas a três vezes
mais intenção e tentativas de suicídio quando comparadas com as
demais. Também se envolveram
mais em episódios de uso de álcool. As mulheres agredidas também relatam dores ou desconfortos severos, problemas de concentração e tonturas.
Os filhos dessas mulheres, por
sua vez, têm maior nível de repetência, chupam o dedo, fazem xixi
na cama e sofrem de pesadelos.
Cerca de 41% das mulheres de
São Paulo e 52% das que vivem na
Zona da Mata tiveram que sair de
casa pelo menos uma vez por causa das agressões. Entre as que não
abandonaram a casa, a maioria
(32%) alega que perdoou o parceiro, 25% disseram que não queriam deixar as crianças e 23% ficaram por "amor ao parceiro".
A maioria procura ajuda entre
familiares. Mesmo em São Paulo,
apenas 18% disseram procurar
ajuda nas delegacias de polícia.
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