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ENTREVISTA
Envelhecer não é sinônimo de estar doente, afirma médico
DA REPORTAGEM LOCAL
A regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Clínica Médica
prepara um congresso totalmente
voltado para saúde e "terceira idade" -a que começa aos 60 anos.
A idéia é acabar com o mito de
que envelhecer é sinônimo de
doença, afirma Abrão José Cury
Júnior, 50, coordenador do encontro que deverá ocorrer em outubro em Santos.
Segundo cenário projetado pela
Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), em
2025 a população nessa faixa etária aumentará 123,1% só na capital paulista, passando dos 2 milhões de pessoas. A seguir, trechos
da entrevista realizada com Cury
Júnior na sexta-feira.
Folha - Por que a escolha desse
tema?
Abrão José Cury Júnior - Definimos como tema central pela importância que vem ganhando. Há
uma série de entendimentos que
contemplam a terceira idade, e é
cada vez mais importante o clínico estar atualizado. O entendimento é que terceira idade e
doença andam de mãos dadas.
Mas ter mais de 60 anos não significa estar doente. Não existe isso.
Não é normal ter pressão alta, dores. O normal é não ter nada que
comprometa a qualidade de vida.
Folha - Qual é a perspectiva?
Cury Júnior - Há uma perspectiva de que a sobrevida seja cada
vez maior. Em 1940, era de 50
anos. terminamos o século passado com 66 anos. Até a metade
deste século, será de por volta de
cem anos. Isso significa que teremos de nos confrontar com as
doenças crônico-degenerativas,
estas sim próprias da idade [demências e câncer, por exemplo].
Mas nem assim. Hoje dispomos
de recursos terapêuticos melhores do que há 20 anos, caso, por
exemplo, do tratamento de
diabetes.
Folha - A que o senhor atribui esse entendimento errôneo, de que
envelhecer significa suportar dores, por exemplo?
Cury Júnior - Dentro de nossa comunidade, temos conceitos estereotipados. (...) Na década de 60,
já existiam, mas também havia
menos recursos de diagnóstico e
tratamento. A sociedade entendia
assim e os médicos também, justamente porque havia menos recursos. O problema é que a sociedade não se adaptou.
Folha - Quais os problemas que
passam despercebidos, são considerados naturais da idade, mas
não são.
Cury Júnior - Os problemas da
boca, por exemplo. As pessoas
acham natural que faltem dentes,
mas assim não se come bem. O
idoso emagrece. Às vezes, também, não tratam problemas ósseos. Consideram normais as dores. Aí não podem sair, tomar sol.
Também não tem porque ficar
surdo. Aceitar isso significa levar
um problema para o seio familiar.
O volume da TV é alto, irrita. A
pessoa não consegue interagir.
Outra coisa importante é a acuidade visual. Se não for tratada, a
chance de cair, de fraturar, é
maior.
Folha - Conviver com esses problemas como se fossem normais pode levar a um quadro depressivo?
Cury Júnior - Não só isso pode levar à depressão. Também não é
normal deixar que a pessoa se isole. Imagine uma casa em que a relação é: "Oi, vô. Tchau, vô". Isso se
o "vô" estiver no caminho. Não é
normal. Também pode acabar
deprimindo.
Precisamos de uma intervenção
cultural. No meio ocidental, o
idoso não existe. Até o governo
pensa assim. Quem perde sempre
são os aposentados. Cabe a todos
nós mudarmos essa cultura. Em
20, 30, 40 anos, seremos nós.
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