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COMPORTAMENTO
Mulheres enfrentam obstáculos para circular com seus bebês pela cidade; metrô também oferece problema
Mães fazem "rally" de carrinho em calçadas e shoppings
LARISSA PURVINNI
DA REVISTA
Areia, pedras, buracos, trancos,
solavancos, choro. Atravessar São
Paulo conduzindo um carrinho
de bebê é mais ou menos como
enfrentar uma versão materna do
Rally Paris-Dacar. Com a desvantagem de que, no deserto, não é
necessário superar escadas, e o
co-piloto não chora nem precisa
ter as fraldas trocadas.
A frota de carrinhos de bebês
circulando na cidade não é nada
desprezível. Embora não haja um
número oficial, calcula-se em até
200 mil ao ano as paulistanas que
adquirem carrinhos e, assim como o 1,5 milhão de deficientes,
descobrem quão complicada pode ser a locomoção sobre rodas.
"Para o fabricante de carrinhos
de bebê, essa realidade é um desastre. Antes de maldizer a calçada, a tendência da mãe é culpar a
empresa que fabrica o veículo",
afirma Dárcio Leite Sanches, diretor da Infanti no Brasil. A indústria diz que teve de adaptar seus
produtos ao terreno acidentado
das calçadas latino-americanas, e
seus modelos ganharam mecanismo de amortecimento especial e
reforço em rebites e parafusos.
Mães de primeira viagem, sem
muita prática, deixam seu zero
quilômetro na "garagem" por um
bom tempo. "No começo, tinha
muito medo de assalto, seqüestro.
Depois vem o problema das calçadas, o barulho dos carros", diz a
psicóloga Helena Slywitch, 27,
mãe de Clara, 7 meses.
O prédio de Helena tem rampa,
item nem sempre presente nos
imóveis mais antigos, cuja escadaria na entrada obriga a piloto e
seu co-piloto a enfrentar degraus
ou entrar pela garagem, brigando
com rodas mais possantes.
Na calçada, a trepidação provocada pelas irregularidades até ajudam o bebê a pegar no sono. O
problema é que um buraco um
pouco maior pode enroscar a roda do carrinho e, com o solavanco, adeus sossego. "Além de a Clara acordar sobressaltada, também
tinha medo de que aquela trepidação pudesse machucar o pescocinho", conta a psicóloga.
Não é o caso. Segundo o cirurgião pediátrico João Gilberto
Maksoud Filho, presidente da
ONG Criança Segura, dificilmente os solavancos causam algum
dano ao bebê. O que sofre mesmo
é a paciência da mãe. Para superar
os obstáculos mais complicados é
preciso ter força nos braços, já
que o carrinho não pesa menos de
6 kg, sem somar os do passageiro
e sua bagagem -até 20 kg.
Atravessar a rua transforma-se
em uma pequena odisséia: carros
na faixa, motoqueiros costurando
e semáforos que têm só o tempo
suficiente para desenganchar o
carrinho. "Antes de sair, procuro
conhecer o trajeto e o lugar aonde
vou", diz Helena.
São Paulo tem hoje cerca de 15
mil calçadas rebaixadas. Para que
a circulação fosse razoável, o ideal
seriam entre 150 mil e 200 mil.
Edison Passafaro, secretário-geral
da Comissão Permanente de
Acessibilidade, da Secretaria de
Habitação e Desenvolvimento
Urbano, diz que, até o final da gestão Marta, haverá 25 mil.
Aventura indoor
Para quem não se arrisca a andar pelas ruas, os shoppings são
uma opção mais tranqüila
-muitos até oferecem serviço de
empréstimo de carrinho. A situação se complica na hora de mudar
de andar. Sem muita paciência
para aguardar os elevadores sempre cheios, muitas mães decidem
encarar a escada rolante.
Mãe das gêmeas Catarina e Dora, de um ano, a apresentadora de
TV Lorena Calábria já viveu a
aventura. "Demorei quase um
ano para levá-las ao shopping. No
elevador nunca há espaço para
dois carrinhos, então acabei indo
pela escada."
Apesar de mais curto, o caminho é arriscado. Fabricantes e especialistas em segurança infantil
alertam: a roda pode enroscar,
travando a escada, ou a mãe pode
soltar a alça acidentalmente e derrubar o carrinho.
O veto às escadas rolantes já
consta do manual de algumas empresas, ao lado de recomendações
como afivelar o cinto, travar as rodas em terrenos inclinados e jamais deixar a criança sozinha.
Metrô
Helena mora a apenas algumas
quadras da estação de metrô Consolação, mas, por causa das dificuldades, nem considera o transporte público como opção. A convite da reportagem, ela aceitou
pegar o metrô levando Clara.
Poucas mães sabem, mas a estrutura criada para usuários de
cadeira de rodas está também à
disposição das mães com carrinhos de bebê. Pegar esse elevador,
contudo, é um pouco complicado
para quem não está familiarizado.
Em primeiro lugar, é preciso saber que ele fica afastado das entradas convencionais da estação e
caminhar até a esquina da Paulista com Consolação.
Depois, é necessário apertar um
botão que aciona o interfone; o
funcionário só libera o elevador
após uma longa rampa, ao saber
qual a necessidade.
Para não sair sem pagar, é preciso comprar o bilhete e rodar a catraca ao sair da estação. Depois da
experiência, Helena concluiu: "É
um rally de verdade."
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