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Tratamento fez "casa ficar de pé", diz mãe que perdeu filha
DA REPORTAGEM LOCAL
A metáfora que Katia Cappellaro, 50, acha para definir o
câncer infantil é um vendaval,
no qual "os pais só pensam em
continuar em cima da casa".
Sem um alicerce forte, diz, a casa voa. "É a psicooncologia que
garante que ela fique de pé."
Respirando fundo, ela ajeita
os cabelos cor de cobre antes de
narrar a história. Foi em 1989,
quando tinha dois filhos. Ticiane, a mais velha, então com seis
anos, começou a olhar diferente. Do oftalmologista veio o
alerta e do neurologista a sentença: "Se vocês têm uma religião, rezem. O impossível para
o homem não o é para Deus".
Tici tinha um tumor cerebral
em uma região difícil de alcançar pela cirurgia -que ela fez,
sem resultados. Fez também
quimioterapia por seis meses,
sem resposta. O câncer crescia
e ela começou a ficar estrábica.
"Isso é um soco na boca do estômago", diz Katia, que suportou tudo com a ajuda dos psicooncologistas do Centro Infantil Boldrini, em Campinas.
Foi assim que ela enfrentou a
queda de cabelo de Tici e seu
pedido de passar férias na
praia. Katia assumiu os riscos.
Pai e mãe, filho e primos e
uma Tici saltitante chegaram a
Ubatuba em 3 de janeiro de
1990. "Quando ela entrou na
água, disse para a tia: "Hoje é o
dia mais feliz da minha vida". Isso é algo que uma mãe não esquece." Tici morreu abraçada
com a mãe, cinco dias depois
-três antes de fazer oito anos.
"No momento mais difícil da
vida, é muito bom ter um suporte para ser mãe até o fim,
para dar ao filho o que ele quiser. Pode ter certeza: faria tudo
de novo", diz Katia, no consultório onde trabalha como dentista, desde então, no Boldrini.
Foi a forma de agradecer.
(WV)
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