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URBANISMO
Barracos de madeira invadem conjuntos habitacionais; prédios ainda abrigam bares improvisados e até igrejas
Moradores erguem favela em Cingapura
DO "AGORA"
O Cingapura, projeto de habitação popular lançado em 93 pela
Prefeitura de São Paulo, foi feito
para substituir favelas por prédios. Mas, ao invés de os 39 conjuntos de edifícios substituírem as
favelas, hoje são elas que ameaçam tomar conta desses locais.
Em dois conjuntos -os Cingapura São João e Chácara Bela Vista, na Vila Maria (zona norte da
capital)- visitados na semana
passada pela reportagem, famílias
sem-teto ergueram barracos entre
os blocos de prédios.
Na base do improviso, três, quatro e até nove pessoas se espremem em "casas" de um cômodo
só e cerca de 20 m2 de área.
"Isso aqui foi abandonado. A
prefeitura construiu às pressas e
depois nunca mais se preocupou", diz Cícero Pinheiro do Nascimento, 31, líder comunitário do
Cingapura São João.
Os barracos, surgidos nos últimos quatro anos, ganharam até
valor comercial. Com um amigo,
a família de Edna Alves, 43, comprou um deles, de dois cômodos,
no Cingapura Chácara Bela Vista.
Cada parte pagou R$ 250.
A dona-de-casa Francisca Maria da Silva, 23, trocou Campinas
por São Paulo há dois anos. Uma
amiga, moradora do Cingapura
São João, lhe cedeu uma garagem
-feita de madeira-, onde ela
passou a viver com o marido e
dois filhos. Outras famílias resolveram copiar a idéia.
Há seis meses, um acordo permitiu que os ocupantes das garagens desmanchassem as "casas" e
usassem a madeira para construir
barracos em outra área, também
dentro do Cingapura.
No Cingapura Chácara Bela
Vista, o desempregado Manoel
Martins Bezerra, 38, não vive em
uma garagem, mas em um carro.
A deterioração dos prédios do
Cingapura não começou com os
sem-teto. Antes chegaram os comerciantes -em geral, moradores das próprias unidades- que
improvisaram instalações, a
maioria de madeira, para vender
todo o tipo de produto.
Nos dois conjuntos, os estabelecimentos mais comuns são bares.
O de Gidálcio Santos, 38, lota aos
finais de semana, quando ele serve caldo de mocotó e promove
bingos. "Os prêmios são de R$ 20,
R$ 30." As paredes são cheias de
fotos de mulheres seminuas. Entre elas, alguns homens de cuecas.
"Preciso contentar a mulherada,
também", explica Santos.
Perto dali, o pastor Nivaldo de
Oliveira, 35, está terminando de
construir sua igreja -uma Assembléia de Deus que funciona
onde antes havia uma garagem.
Os cultos -quatro por semana-
já reúnem mais de 50 pessoas.
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