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ANGELO MARGARIDO (1930-2008)
E suas mil bengalas baratas para cegos
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Angelo Margarido era um
homem de visão. Tanto via
que espantava quem o pegasse, bengala em punho, a ler
em braile -ou quem soubesse que fora ele a encabeçar a
produção em massa de bengalas baratas para cegos no
país, no fim dos anos 50.
Quem conta é seu biógrafo
-sim, ele tem uma biografia,
do tempo de sócio do Lions
Clube. "Na escola faziam gozação com seu sotaque, e ele
era inteligente", diz o biógrafo. Pois Margarido nasceu
em Portugal e veio aos dez
para o Brasil. Aqui foi escoteiro e nadador ("nadou no
rio Tietê, ganhou prêmios"),
até ir trabalhar na Light.
O tempo passou e ele se casou com a filha de um português tão engenhoso quanto
ele, que, de tanto tentar fórmulas para ganhar dinheiro,
acabou criando um saponáceo, mais tarde comprado
por uma multinacional. O sogro ficou milionário e Margarido virou empresário.
A bengala? É que a mulher
era amiga de Dorina Nowill,
"cega eminente" e mentora
da Fundação para o Livro do
Cego. Ela tinha uma bengala
branca importada; e ele teve
a idéia: iria fazê-las aqui, de
alumínio. Procurou um metalúrgico para fundir o metal
angariado nas fábricas, "fez
os amigos tirarem dinheiro
do bolso" e conseguiu fazer e
distribuir mais de mil bengalas aos cegos mais pobres.
"Ele abraçou a idéia sem
motivo pessoal", diz o filho.
"Virou um filantropo." Morreu na quarta, de broncopneumonia. Viúvo, tinha um
filho, dois netos e cem anos.
obituario@folhasp.com.br
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