São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2008

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ANGELO MARGARIDO (1930-2008)

E suas mil bengalas baratas para cegos

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Angelo Margarido era um homem de visão. Tanto via que espantava quem o pegasse, bengala em punho, a ler em braile -ou quem soubesse que fora ele a encabeçar a produção em massa de bengalas baratas para cegos no país, no fim dos anos 50.
Quem conta é seu biógrafo -sim, ele tem uma biografia, do tempo de sócio do Lions Clube. "Na escola faziam gozação com seu sotaque, e ele era inteligente", diz o biógrafo. Pois Margarido nasceu em Portugal e veio aos dez para o Brasil. Aqui foi escoteiro e nadador ("nadou no rio Tietê, ganhou prêmios"), até ir trabalhar na Light.
O tempo passou e ele se casou com a filha de um português tão engenhoso quanto ele, que, de tanto tentar fórmulas para ganhar dinheiro, acabou criando um saponáceo, mais tarde comprado por uma multinacional. O sogro ficou milionário e Margarido virou empresário.
A bengala? É que a mulher era amiga de Dorina Nowill, "cega eminente" e mentora da Fundação para o Livro do Cego. Ela tinha uma bengala branca importada; e ele teve a idéia: iria fazê-las aqui, de alumínio. Procurou um metalúrgico para fundir o metal angariado nas fábricas, "fez os amigos tirarem dinheiro do bolso" e conseguiu fazer e distribuir mais de mil bengalas aos cegos mais pobres.
"Ele abraçou a idéia sem motivo pessoal", diz o filho. "Virou um filantropo." Morreu na quarta, de broncopneumonia. Viúvo, tinha um filho, dois netos e cem anos.

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