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Por dia, são feitas 55 denúncias contra pais
Conselhos tutelares do país receberam, de 1º de janeiro a 8 de setembro, 14 mil denúncias de maus-tratos a crianças
Denúncias contra pais e mães ficam em 1º no ranking,
com 45% dos registros; para especialistas, causa é a crença na "violência educativa"
RACHEL COSTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O caso dos meninos Igor Giovani, 12, e João Vítor, 13, mortos e esquartejados na sexta-feira em Ribeirão Pires (Grande SP), é o retrato extremo de
uma situação que, com variados graus de crueldade, repete-se diariamente em todo o país:
a violência intrafamiliar. O pai
e a madrasta dos meninos foram presos, acusados do crime.
A madrasta aponta como autor
o marido, que alega inocência.
Só de 1º de janeiro a 8 de setembro, mais de 14 mil denúncias foram registradas pelos
conselhos tutelares do país
contra pais e mães que teriam
cometido alguma violação dos
direitos dos filhos -negligência, agressão, abuso sexual. Dá
uma média de 55 casos ao dia.
Os números são do Sipia (Sistema de Informação para a Infância e Adolescência), mantido pela SEDH (Secretaria Especial de Direitos Humanos da
Presidência da República).
Representam, no entanto,
apenas parte dos casos registrados, já que o banco de dados
é organizado a partir das informações dos conselhos tutelares
e nem todos enviam os registros como deveriam.
As mais de 14 mil denúncias
contra pais e mães representam 45% dos cerca de 31 mil registros reunidos pelo Sipia no
período, o que as deixa em primeiro lugar no ranking de
agressões. Os demais agressores citados nas denúncias são
escolas, creches ou outro adulto responsável pela criança.
"O que você tem [em relação
aos dados] é como se fosse uma
demonstração extrema e bastante falha do que acontece
dentro de casa", avalia a diretora da Sociedade Brasileira de
Pediatria, Rachel Niskier. Ela
diz que os números se limitam
a parte dos casos reais e há muitas agressões que ficam ocultas
entre quatro paredes.
Pedagogia da palmada
O Sipia divide os casos conforme o direito violado -tendo
como referência o Estatuto da
Criança e do Adolescente. A
maioria (66,9%) das violações
cometidas por pais e mães relaciona-se ao direito à convivência familiar e comunitária, em
situações como abandono dos
filhos sozinhos em casa e falta
de condições materiais.
Em segundo lugar vêm as situações de violência física ou
psicológica, que representam
16,1% dos casos relativos.
A maior causa desse tipo de
violência, segundo os especialistas ouvidos pela Folha, é a
crença na violência como parte
do processo educativo.
"[O senso comum é que] Se
eu bater em você [outro adulto], posso ser presa, mas posso
bater em uma criança para
educar", diz a coordenadora do
Programa de Prevenção da
Violência da ONG Promundo,
Marianna Olinger.
Os resultados dessa prática
são catastróficos. Estudo do
Unicef de 2006 aponta que
agressões e negligência são responsáveis por quase um quarto
das mortes de crianças de 0 a 6
anos. Outros impactos, segundo Rachel, são baixa auto-estima, pequeno aproveitamento
escolar e formação de adultos
inseguros. "Quem educa batendo, está educando para bater."
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