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Reitor da Unifesp festeja ranking, mas teme piora
Para Marcos Ferraz, expansão implica riscos de queda na qualidade do ensino e da pesquisa
Ontem, alunos do campus de Guarulhos reclamavam, acampados no térreo do prédio da reitoria, da falta de estrutura e de docentes
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
O reitor pro-tempore da Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo), Marcos Pacheco de
Toledo Ferraz, comemorou ontem o primeiro lugar no ranking do MEC das melhores universidades do país, obtido pela
instituição que dirige há apenas
dez dias, mas de cuja vida participa há 45 anos (como estudante e depois como professor).
Toledo Ferraz, entretanto,
admitiu que a forte expansão
vivida pela Unifesp nos últimos
três anos, quando as vagas
(apenas na graduação) passaram de 1.300 para 3.900 (uma
ampliação de 200%), implica
riscos de queda na qualidade do
ensino e pesquisa, variáveis
usadas na elaboração do ranking recém-divulgado.
"Há o risco de a gente cair?
Há um risco, que a gente tem de
assumir de uma forma positiva.
Serão as nossas dores do crescimento, mas as enfrentaremos",
diz Toledo Ferraz.
Para ele, o ranking reflete
principalmente a situação vivida nos campi da Vila Clementino, na zona sul de São Paulo, e
da Baixada Santista. É na Vila
Clementino que fica o curso de
medicina, o mais tradicional da
instituição, fundado em 1933.
Mas a universidade também
mantém cursos em Diadema,
Guarulhos e São José dos Campos, criados de 2005 para cá e
ainda em fase de implantação.
Ontem mesmo, alunos do
campus de Guarulhos (que sedia cursos de ciências sociais,
história, filosofia, pedagogia,
história da arte e letras) reclamavam, acampados no térreo
do prédio da reitoria, da falta de
biblioteca, refeitório, salas de
aula e professores. "Não é verdade que exista um campus de
Guarulhos. Tudo lá está ainda
para ser feito", disse à Folha
Eduardo Souza, 19, do curso de
ciências sociais.
"Eu dou razão a esses alunos.
Mas essa crise é positiva. Não
se cresce sem dor. Precisamos
mesmo de algo como 150 novos
docentes já no próximo ano,
para dar conta da ampliação da
universidade", diz o reitor. Só
no vestibular de fim de ano,
quando serão escolhidos os ingressantes de 2009, a Unifesp
inaugurará seis novos cursos e
serão abertas mais 609 vagas.
Para Toledo Ferraz, o desafio
tem familiaridade com o enfrentado por ele quando da implantação das cotas raciais na
Unifesp, processo de que ele foi
um dos líderes. Atualmente,
10% das vagas são preenchidas
pelo sistema de cotas raciais.
"Quando enfrentamos, como
escola predominantemente
médica, a questão das cotas, era
uma aposta no futuro. Era uma
confiança no futuro. O alunado, por exemplo, não queria.
Achava que o nível de ensino
seria rebaixado. Mas o acompanhamento dos alunos cotistas
mostra que aquele calouro que
ingressou com uma nota discretamente inferior, ao cabo de
um ano, era indistinguível do
que não entrou pela cota. E por
quê? Porque a universidade
deu-lhe um suporte. É isso o
que teremos de fazer agora, já
que na Unifesp começam a entrar estudantes com mais carências socioeconômicas, de
cursos menos concorridos do
que aqueles da área médica. Seria fácil continuar com o que já
está feito e bem feito. Mas isso
nos levaria ao gueto. E queremos ser uma universidade pública completa."
Azáfama
Professor titular da psiquiatria da Unifesp que foi alçado à
condição de reitor depois da renúncia do antecessor Ulysses
Fagundes Neto, em meio a denúncias de uso irregular de recursos do Estado para pagamento de itens de consumo de
luxo em viagens internacionais
(entre outras irregularidades),
Toledo Ferraz tornou-se nome
de consenso entre seus pares
para conduzir a Unifesp até a
escolha de um novo reitor para
um mandato de quatro anos. O
processo eleitoral está aberto.
Sobre o fato de a Unifesp parecer ter sido colhida de surpresa pelas irregularidades
apontadas pelo Tribunal de
Contas da União, pela Controladoria Geral da União e pelo
Ministério Público Federal
contra os dirigentes anteriores,
o reitor pro-tempore afirma: "A
azáfama do crescimento da
universidade possivelmente
nos cegou". Refere-se ao trabalho que envolveu os docentes
da Unifesp na formatação de 20
novos cursos, onde, até três
anos atrás, havia apenas cinco.
"Eu não vou ficar no processo de negação. Mas não queremos que o processo de apuração de responsabilidades se
transforme em uma crise permanente. Minha missão é preparar a universidade para uma
gestão de quatro anos que resulte em aperfeiçoamento de
processos, em cuidado extremo
com o uso dos recursos públicos, em seguirmos as normas
com perfeição e sem descuidos.
É isso que evitará que uma crise
institucional como a que acabamos de vivenciar se repita", diz.
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