São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2008

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Reitor da Unifesp festeja ranking, mas teme piora

Para Marcos Ferraz, expansão implica riscos de queda na qualidade do ensino e da pesquisa

Ontem, alunos do campus de Guarulhos reclamavam, acampados no térreo do prédio da reitoria, da falta de estrutura e de docentes


LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

O reitor pro-tempore da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Marcos Pacheco de Toledo Ferraz, comemorou ontem o primeiro lugar no ranking do MEC das melhores universidades do país, obtido pela instituição que dirige há apenas dez dias, mas de cuja vida participa há 45 anos (como estudante e depois como professor).
Toledo Ferraz, entretanto, admitiu que a forte expansão vivida pela Unifesp nos últimos três anos, quando as vagas (apenas na graduação) passaram de 1.300 para 3.900 (uma ampliação de 200%), implica riscos de queda na qualidade do ensino e pesquisa, variáveis usadas na elaboração do ranking recém-divulgado.
"Há o risco de a gente cair? Há um risco, que a gente tem de assumir de uma forma positiva. Serão as nossas dores do crescimento, mas as enfrentaremos", diz Toledo Ferraz.
Para ele, o ranking reflete principalmente a situação vivida nos campi da Vila Clementino, na zona sul de São Paulo, e da Baixada Santista. É na Vila Clementino que fica o curso de medicina, o mais tradicional da instituição, fundado em 1933. Mas a universidade também mantém cursos em Diadema, Guarulhos e São José dos Campos, criados de 2005 para cá e ainda em fase de implantação.
Ontem mesmo, alunos do campus de Guarulhos (que sedia cursos de ciências sociais, história, filosofia, pedagogia, história da arte e letras) reclamavam, acampados no térreo do prédio da reitoria, da falta de biblioteca, refeitório, salas de aula e professores. "Não é verdade que exista um campus de Guarulhos. Tudo lá está ainda para ser feito", disse à Folha Eduardo Souza, 19, do curso de ciências sociais.
"Eu dou razão a esses alunos. Mas essa crise é positiva. Não se cresce sem dor. Precisamos mesmo de algo como 150 novos docentes já no próximo ano, para dar conta da ampliação da universidade", diz o reitor. Só no vestibular de fim de ano, quando serão escolhidos os ingressantes de 2009, a Unifesp inaugurará seis novos cursos e serão abertas mais 609 vagas.
Para Toledo Ferraz, o desafio tem familiaridade com o enfrentado por ele quando da implantação das cotas raciais na Unifesp, processo de que ele foi um dos líderes. Atualmente, 10% das vagas são preenchidas pelo sistema de cotas raciais.
"Quando enfrentamos, como escola predominantemente médica, a questão das cotas, era uma aposta no futuro. Era uma confiança no futuro. O alunado, por exemplo, não queria. Achava que o nível de ensino seria rebaixado. Mas o acompanhamento dos alunos cotistas mostra que aquele calouro que ingressou com uma nota discretamente inferior, ao cabo de um ano, era indistinguível do que não entrou pela cota. E por quê? Porque a universidade deu-lhe um suporte. É isso o que teremos de fazer agora, já que na Unifesp começam a entrar estudantes com mais carências socioeconômicas, de cursos menos concorridos do que aqueles da área médica. Seria fácil continuar com o que já está feito e bem feito. Mas isso nos levaria ao gueto. E queremos ser uma universidade pública completa."

Azáfama
Professor titular da psiquiatria da Unifesp que foi alçado à condição de reitor depois da renúncia do antecessor Ulysses Fagundes Neto, em meio a denúncias de uso irregular de recursos do Estado para pagamento de itens de consumo de luxo em viagens internacionais (entre outras irregularidades), Toledo Ferraz tornou-se nome de consenso entre seus pares para conduzir a Unifesp até a escolha de um novo reitor para um mandato de quatro anos. O processo eleitoral está aberto.
Sobre o fato de a Unifesp parecer ter sido colhida de surpresa pelas irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas da União, pela Controladoria Geral da União e pelo Ministério Público Federal contra os dirigentes anteriores, o reitor pro-tempore afirma: "A azáfama do crescimento da universidade possivelmente nos cegou". Refere-se ao trabalho que envolveu os docentes da Unifesp na formatação de 20 novos cursos, onde, até três anos atrás, havia apenas cinco.
"Eu não vou ficar no processo de negação. Mas não queremos que o processo de apuração de responsabilidades se transforme em uma crise permanente. Minha missão é preparar a universidade para uma gestão de quatro anos que resulte em aperfeiçoamento de processos, em cuidado extremo com o uso dos recursos públicos, em seguirmos as normas com perfeição e sem descuidos. É isso que evitará que uma crise institucional como a que acabamos de vivenciar se repita", diz.


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