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RETRATOS DO BRASIL
Veículo, que tem consultórios e centro cirúrgico, atendeu 29 municípios paulistas e mineiros neste ano
Ônibus-hospital descobre câncer em SP
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sábado, 9h da manhã, município de Olímpia (434 km de SP).
Uma fila de 120 pessoas -homens e mulheres-, se forma
diante de um ônibus. Pela ordem
de chegada, cada morador é examinado por médicos e enfermeiros no interior do veículo, que
funciona como um mini-hospital,
com salas de coleta de exames,
consultórios e centro cirúrgico.
Há oito meses, sempre aos sábados, o ônibus percorre a região levando a bordo uma equipe médica que faz exames preventivos
gratuitamente para quatro tipos
de câncer: pele, boca, próstata e
colo do útero.
O veículo faz parte do programa
"Prevenção de Câncer Itinerante", desenvolvido pelo Hospital de
Câncer de Barretos (a 424 km de
São Paulo) e já esteve em 29 municípios de São Paulo e Minas Gerais. Um total de 2.575 pessoas foram examinadas, sendo que 64 tinham algum tipo de câncer.
O de pele foi o mais frequente,
com 57 casos confirmados em um
total de 880 exames. Esse tipo de
câncer é o mais comum na população brasileira, com a ocorrência
de 62 mil casos novos por ano, segundo o Ministério da Saúde.
A maioria dos tumores, 95%,
provoca baixa mortalidade, mas
se não-diagnosticados precocemente causam deformações e infiltrações de músculo e osso, deixando sequelas estéticas.
Um dos casos confirmados em
Olímpia foi o do aposentado Antônio Raimundo, 68, que tinha
uma lesão no antebraço e a tratava, por orientação de um médico,
com remédios para micose. No
ônibus, depois de fazer uma biopsia, descobriu que o ferimento era
câncer de pele. "Fiquei sem saber
em quem acreditar", diz ele. Na
mesma consulta, fez o exame de
próstata. Deu negativo.
Outros cinco homens da região
não tiveram a mesma sorte. O
aposentado Aparecido Nunes
Duarte, 73, de Urânia (595 de SP)
aproveitou a visita do ônibus na
sua cidade e fez, pela primeira vez,
um exame de próstata. O teste de
PSA deu positivo e Duarte iniciou
a radioterapia, associado a um
tratamento quimioterápico.
"Sou o primeiro a aconselhar
meus colegas a fazerem o exame",
afirma Duarte, comentando que
muitos amigos ainda se sentem
constrangidos com o toque retal.
O câncer de próstata é o segundo mais comum na população
masculina -o primeiro é o de pele. O Ministério da Saúde estima
que 2002 fechará com 25,6 mil novos casos da doença. O grande
problema é que apenas 30% dos
casos desse tipo de câncer são
diagnosticados precocemente.
Nos mais avançados, só 31% dos
pacientes permanecem vivos cinco anos após o diagnóstico.
Durante as visitas com o ônibus,
a equipe médica de Barretos registrou ainda um paciente com
câncer de reto e outro de boca.
Projeto itinerante
Segundo Edmundo Carvalho
Mauad, diretor técnico do Hospital do Câncer de Barretos, os pacientes que tiveram exames com
resultados alterados são encaminhados ao hospital.
Ele afirma que, antes levar o
ônibus à uma determinada cidade, os responsáveis pela saúde do
município são orientados a selecionar a população mais carente e
a dar preferência às mulheres que
nunca fizeram o exame papanicolaou para diagnóstico de câncer
de colo uterino.
Para identificação de câncer de
próstata, são selecionados pacientes acima do 50 anos.
Segundo ele, o projeto visa alertar a comunidade de saúde, e a
população em geral, que o câncer
pode ser curado se diagnosticado
precocemente. Além disso,
Mauad afirma que a população
dos pequenos municípios dificilmente tem acesso a profissionais
especializados em oncologia.
"É um projeto que deveria ser
estendido a todo país. Todos
saem ganhando com o diagnóstico precoce do câncer: o paciente,
que tem aumentada a chance de
cura, e o governo, que economizaria em internação e tratamento
da doença", afirma.
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