|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE PÚBLICA
Mudança de tom surge em conferência latino-americana, que ocorre em SP
Universidade quer diálogo com Lula
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
No tempo todo em que o país
vem sendo governado por um
acadêmico -o sociólogo Fernando Henrique Cardoso-, as principais vozes da universidade se
restringiram a proposições e debates. Agora que um metalúrgico
chega ao palácio, a academia manifesta sua intenção de sentar-se à
mesa e contribuir com idéias,
"humildemente".
A mudança de tom aparece na
3ª Conferência Regional Latino-Americana de Promoção da Saúde e Educação para a Saúde, que
começou ontem e vai até terça-feira, em São Paulo. Programada
bem antes de Lula ser candidato
eleito, os temas da conferência
deixam de ser vistos apenas com
olhos de oposição, pelo menos
para a maior parcela dos participantes brasileiros.
"A participação da universidade
é uma exigência pelo estilo de Lula, pelas circunstâncias de sua
eleição e pelo jeito que ele está
conduzindo os trabalhos", diz o
professor Fernando Lefevre, titular de promoção de saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP
e um dos debatedores.
"Deve-se cobrar que a universidade sente com o meio político
e com os setores sociais e debata
propostas concretas para o país."
Em se tratando da área da saúde, as soluções terão "que ser mais
criativas", diz Lefevre. A política
atual, de incorporar cada vez mais
novas tecnologias e contabilizar
hospitais, leitos e remédios, não
vai conseguir resolver. Prevenção
e tratamento deverão ser conduzidos de forma "ousada e criativa", ele afirma.
Lefevre cita como bom exemplo
de participação acadêmica o secretário municipal Márcio Porchman, do Trabalho, que trouxe para a prefeitura os intelectuais do
Instituto de Economia da Unicamp. "A universidade tem que ir
ao debate com humildade", diz.
No centro da promoção da saúde está a exclusão e a equidade,
lembra Márcia Faria Westphal,
professora da Faculdade de Saúde
Pública e coordenadora-geral da
conferência. Equidade vai além
da igualdade, pois contempla
com "mais", os que "têm menos".
Na saúde, esse conceito é fundamental, pois é sua ausência que leva à exclusão. Westphal diz que
na exclusão há dois lados, aquele
que exclui e aquele que se sente
tão sem direitos que não reivindica mais nada.
Uma das propostas mais bem
sucedidas na redução da exclusão
são as comunidades ou cidades
saudáveis. A idéia é bastante difundida no Canadá e na Europa e
já atinge dezenas de cidades no
Brasil. No geral, são universidades
que "adotam" municípios e passam a trabalhar com seus representantes. Além de responsável
por esse projeto no Brasil, a professora Westphal coordena programas em cinco cidades, entre
elas, Bertioga, no litoral paulista.
Professores e alunos do projeto
identificam as lideranças de cada
cidade, definem com elas as prioridades, as melhores metodologias e as melhores ações para a democratização e equidade. A questão da sustentabilidade é sempre
prioritária, pois o desemprego,
que costuma reforçar a baixa auto-estima, está sempre presente
nas comunidades.
Os organizadores lembram que,
embora o fato de que Lula estará
na Presidência, a maioria das cidades está nas mãos de outros
partidos. E os trabalhos, especialmente na saúde, devem começar
na célula menor, as cidades.
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Vestibular: Quatro exames serão aplicados hoje em SP Índice
|