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METRÓPOLE DESORDENADA
Mapa mostra que 7,2 milhões vivem nos eixos de pobreza da Grande SP
"100% fronteira, 100% nada"
EDNEY CIELICI DIAS
DA REDAÇÃO
Marcos Guarany, líder comunitário e professor da escolinha de
futebol, mostra os montes de entulho colocados há mais de dez
dias na lateral do campo. Vem a
lembrança da final da Copa do
Mundo do ano passado, no Japão.
O capitão da seleção brasileira ergue a taça. Na sua camiseta está a
frase: "100% Jardim Irene".
"Este é o campo em que o Cafu
jogava quando começou aqui no
Irene. Hoje está neste estado, neste lixo. Não dá para jogar", explica
o professor. Melhorar o local é
uma reivindicação dos moradores há anos. A situação, porém,
arrasta-se mesmo depois do
Mundial. "Isto aqui é 100% fronteira, 100% nada."
A área de terra batida, em que
380 crianças jogam futebol com
apoio da Fundação Cafu, fica na
fronteira de São Paulo com o Embu. A fundação pede a construção
de um centro esportivo municipal
no terreno. Conseguiu que São
Paulo tirasse o entulho do córrego
que divide os municípios e que
fornecesse as telas para construir
os muros de contenção.
Na semana passada, a administração do Embu, onde fica o campo, ainda não havia recolhido o
entulho nem fornecido pedras e
mão-de-obra. Segundo a Prefeitura do Embu, os trabalhos vão
recomeçar nesta semana e o centro vai ser construído. Assim mesmo, Guarany olha para a sujeira
na área com decepção. "Se para
melhorar uma fronteira conhecida dá esse trabalho, imagine como é difícil para o resto...".
Levantamento inédito do CEM-Cebrap (Centro de Estudos da
Metrópole do Centro Brasileiro
de Análise e Planejamento) interpreta em números as áreas contínuas de pobreza da Grande SP.
Nelas vivem 7,2 milhões de pessoas, ou seja, 41% da população.
Essas eixos abrigam 57,5% dos
que vivem em regiões de privação
social na região metropolitana, ou
seja, naquelas em que os chefes de
casa têm baixa renda e escolaridade e em que há forte presença de
crianças e adolescentes.
Os grandes eixos de pobreza
chamam a atenção sobretudo por
serem o retrato do desenvolvimento metropolitano desordenado, que empurra os mais pobres
para as regiões fronteiriças. Desde
os anos 70, São Paulo expulsa os
de menor renda de seu centro.
Em regra, as cidades dialogam
com o Estado e com o governo federal, mas não entre si. Os problemas nas fronteiras são uma evidência de que, em tantos casos,
prevalece o raciocínio do "por
que vou fazer algo se o eleitor da
outra cidade é que vai usufruir?".
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