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LITORAL
Projeto da prefeitura prevê conceder trilhas, praias, cachoeiras e locais históricos para exploração da iniciativa privada
Ubatuba quer "privatizar" pontos turísticos
CAROLINA FARIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA VALE
O turista que for no ano que
vem a Ubatuba, uma das mais
movimentadas cidades turísticas
do Estado, com um milhão de visitantes por ano, poderá ter serviços dos quais não dispõe hoje, como guias, banheiros, estacionamentos e lanchonetes, mas terá
que pagar mais pelo conforto.
A prefeitura está preparando a
terceirização, com a concessão da
exploração à iniciativa privada,
dos principais pontos turísticos
da cidade, como praias, trilhas,
cachoeiras e locais históricos.
A medida está prevista na nova
Lei de Uso e Ocupação do Solo,
que aguarda aprovação da Câmara Municipal após quatro audiências públicas, que definiram os
principais pontos do projeto.
A exploração comercial por empresas privadas envolveria basicamente a hotelaria, a náutica e o
ecoturismo. Os locais podem ganhar pousadas, as trilhas devem
ter guias, e as ilhas -que hoje recebem turistas somente graças ao
trabalho de pescadores-, podem
contar com serviços de barcos,
atracadouros e guias.
Outros serviços mais simples
também devem ser explorados
por empresas privadas, como a
oferta de banheiros, lanchonetes,
mirantes, estacionamentos e até
mesmo quiosques e mesas.
As empresas poderão cobrar
pelos serviços extras oferecidos,
mas ainda não estão concluídas as
discussões sobre uma questão
que afeta diretamente os turistas:
se eles terão que pagar para realizar visitas simples aos locais.
O projeto de lei ainda deverá ser
submetido a novas consultas à
população. Pela proposta, as concessões seriam definidas, a cada
caso, por um conselho formado
por ONGs (organizações não-governamentais), associações de
moradores e de classe e poder público (Câmara e prefeitura).
Esse conselho definirá os detalhes da terceirização, como a duração da concessão e a remuneração pelo serviço, além de discutir
como será feito o processo de
transferência para a iniciativa privada, que poderá ser por meio de
concorrência ou carta-convite.
Devastação e cerceamento
A iniciativa já desperta críticas
de turistas e ambientalistas porque pode abrir caminho para a
devastação ambiental e o cerceamento ao direito de visitação.
Legalmente, no entanto, a medida é permitida para os pontos
que pertençam à área de administração do município, ou seja, os
locais de visitação turística que
pertencerem ao Parque Estadual
da Serra do Mar e à União não poderão ser incluídos no projeto.
"Quando o conjunto de lugares
é municipal, é a legislação do município que prevê o que pode ser
feito. O Plano Nacional de Turismo estimula parcerias com a iniciativa privada, mas na organização e divulgação, não na condução", afirmou o secretário de Políticas de Turismo do Ministério do
Turismo, Milton Zuanazzi.
Ele cita como um bom exemplo
o caso das cataratas de Foz do
Iguaçu (PR). "As empresas acabam administrando melhor porque visam ao lucro, mas é preciso
cuidado para que o que é público
não se torne privado", disse.
Os relatores do projeto alegam
que a medida é necessária e irá beneficiar os turistas, já que a prefeitura não tem recursos suficientes
para modernizar, investir, dar infra-estrutura e preservar adequadamente esses locais.
"A prefeitura não tem condições de administrar esses locais,
então queremos parcerias. Mas
cada lugar terá regulamentação
diferente. Tudo dependerá da infra-estrutura a ser oferecida", disse o secretário de Arquitetura e
Urbanismo, Gilmar Rocha, um
dos quatro relatores do projeto.
"Existem muitos pontos abandonados, que os turistas não conhecem. As ilhas estão congeladas por falta de competência da
Secretaria de Turismo. A preservação desses locais será levada em
conta", disse o arquiteto Renato
Nunes, outro relator do projeto.
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