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Projeto para piscinões ganha prêmio em Bienal
Proposta de arquitetos de SP apresentada na Holanda prevê uso público dos reservatórios
Criados para evitar que a água da chuva transborde córregos, os piscinões são apenas buracos inóspitos durante boa parte do ano
Nelson Kon
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Piscinão em Taboão da Serra (Grande SP); projeto de brasileiros premiado em Roterdã, na Holanda, sugere uso da área pela população
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
Criar campos de futebol e
pistas de skate no solo de reservatórios vazios na maior parte
do ano, com passeios e praças
nas margens, e interligados por
linhas de ônibus que aproveitem um novo "circuito das
águas paulistano".
O sonho de dar uma cara nova à árida periferia paulistana,
aproveitando os investimentos
já previstos pelos piscinões, está no projeto "Vazios de água",
do escritório paulistano
MMBB, que venceu o primeiro
prêmio na Bienal de Arquitetura de Roterdã (Holanda) na semana passada.
Os arquitetos Fernando de
Mello Franco, Milton Braga e
Marta Moreira sugerem uma
série de intervenções nos 42
piscinões já construídos, além
de redesenhar os 89 em planejamento pelo governo estadual.
A proposta revaloriza os piscinões, reservatórios que evitam o despejo da água das chuvas no sistema de córregos paulistanos, evitando, por exemplo, enchentes no rio Tietê.
Mas, na maior parte do ano, são
apenas buracos vazios, encravados em favelas da cidade, à
espera de chuvas.
"Já que essas áreas são as
mais carentes de infra-estrutura urbana, o que nós sugerimos
é conciliar a função de drenagem com uma urbanística, de
melhorar a periferia", diz o arquiteto Mello Franco.
Os piscinões são o plano B
das áreas de várzea, onde deveria ocorrer a vazão das cheias.
Como muitas dessas áreas estão urbanizadas ou ocupadas,
os arquitetos sugerem que se
aprenda com a natureza, e que
favelas que estejam em cima
das várzeas sejam transferidas
aos locais previstos para novos
reservatórios artificiais.
Agenda das enchentes
"As enchentes estão na agenda política da cidade porque
têm impacto negativo na economia, então seria a oportunidade para melhorar regiões periféricas que estão desconectadas da cidade", diz o arquiteto.
"Nossa periferia é amorfa,
sem símbolos que criem afeto
com o local onde se vive."
Mello Franco lembra que
drenagem e escoamento de
águas pluviais já criariam espaços públicos como as Ramblas
de Barcelona e os canais de
Santos, no litoral paulista.
O arquiteto do MMBB disse
acreditar que a cara do piscinão
tem que ser mudada.
"Hoje ninguém quer um piscinão perto de casa. Temos que
usar o potencial urbanístico e
de paisagem do piscinão. Quem
não quer morar na frente de
algo que se aproxime mais
do conceito do aterro do Flamengo do que do Minhocão?",
questiona.
Troféu e gaveta
Apesar do prêmio e do reconhecimento na Holanda, o projeto pode ser engavetado?
"Torcemos que não. É ótimo
receber prêmios, mas o melhor
seria conversar com responsáveis pelos piscinões, há muitas
coisas que podem ser feitas em
conjunto", diz Mello Franco.
Ele cita outras experiências
em curso. "A instalação dos
CEUs e o atual projeto de parques lineares da Secretaria do
Verde levam em conta a distribuição dos córregos em São
Paulo. Seria necessário articular todas essas iniciativas, algo
sugerido pelo júri na Holanda."
O tema da Bienal de Roterdã
é "Poder Visionário - Produzir
para a cidade contemporânea".
O prêmio dado aos paulistanos
ganhou mais relevância porque
o outro prêmio importante da
Bienal, ao melhor trabalho de
arquitetos holandeses, não foi
entregue. "Nenhum dos projetos trouxe soluções concretas
ou inovadoras", disse o presidente do júri, Mels Crouwel.
"Há uma grande urgência
porque as cidades estão explodindo. Como fazer com que os
milhões de pessoas que migram para as grandes cidades
tenham um mínimo acesso à
infra-estrutura e virem cidadãos? Que papel os arquitetos
devem ter?", disse o diretor da
Bienal, George Brugmans.
"O projeto do MMBB provoca esperança por levar às favelas a extensão da infra-estrutura existente na cidade. A arquitetura ainda pode fazer diferença", diz Brugmans.
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