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CET se recusa a divulgar dado desfavorável
Companhia usa estratégia de marketing para inflar benefícios de restrição a caminhões, bandeira política de Kassab
Empresa de trânsito só divulga
análise que aponta melhora
do congestionamento; é
apenas um "complemento",
justifica assessoria do órgão
Fotos Raimundo Paccó/Folha Imagem
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Trânsito congestionado na avenida 23 de Maio, no sentido centro, na última quinta
ALENCAR IZIDORO
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL
A gestão do prefeito Gilberto
Kassab (DEM), candidato à
reeleição, tem usado estratégias de marketing com as estatísticas de congestionamento
para inflar os benefícios da restrição aos caminhões no trânsito da cidade de São Paulo.
Uma das principais táticas é a
mudança, sem explicações técnicas, dos critérios de comparação dos engarrafamentos pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Outra foi
não divulgar dados detalhados
para análise na sexta passada.
A última adaptação para
comparar os índices de lentidão se deu na semana considerada como um teste para a avaliação do impacto da proibição
ao transporte de cargas, em razão da volta à rotina de aulas
-ofuscado pela chuva e dois
dias com filas acima de 200 km.
Pelas estatísticas divulgadas
pela gestão Kassab entre segunda e quinta, mesmo com a
tempestade que atingiu a cidade houve melhoria de 3,5% no
trânsito em relação a 2007.
A Folha, porém, obteve dados de um outro critério técnico de comparação -adotado
pela CET até a semana retrasada, mas que ela se recusou a divulgar em quatro dias da última semana-, sinalizando situação mais desfavorável, com
piora de 0,4% da lentidão.
A meta divulgada pela gestão
Kassab com a restrição aos caminhões a partir de 30 de junho é atingir uma melhoria da
fluidez próxima de 15%.
Especialistas vêem indícios
de que a medida traz benefícios
à circulação, mas consideram
ser cedo para conclusões. Os
resultados ruins da semana
passada são atribuídos à chuva.
Na última sexta, quando a
lentidão atingiu 211 km às 19h
-recorde desde que vigora a
nova restrição a caminhões-, a
opção da CET foi se recusar a
fornecer dados comparativos
com 2007 pelos dois critérios.
Guerra de números
O parâmetro que a CET passou a se negar a divulgar foi usado, por exemplo, em comunicado distribuído à imprensa no
dia 28 de julho: "Índice de lentidão cai 49% na primeira manhã de rodízio de caminhões".
Por esse mesmo critério, São
Paulo teve uma diminuição de
6% dos congestionamentos na
última segunda, 4 de agosto.
Mas a empresa se recusou a divulgá-lo, apesar dos pedidos,
para exaltar uma comparação
mais favorável: queda de 10%.
No dia seguinte, novamente a
CET só destacou a fórmula
mais conveniente: "Apesar da
forte chuva, lentidão no trânsito cai 10%". Pelo outro parâmetro histórico, teria havido piora
de 2% dos congestionamentos.
Os dois critérios de análise da
situação do trânsito eram divulgados com freqüência pela
CET. São eles: a comparação
com um único dia equivalente
de 2007 (exemplo: 28/07/2008
com 30/07/2007, por serem
ambos a última segunda de julho); e a comparação com a média do dia da semana (exemplo:
28/07/2008 com a média das
segundas de julho de 2007).
Funcionários da companhia
de trânsito dizem que ela omitiu os dados desse segundo parâmetro em alguns dias por terem sido menos favoráveis.
A divulgação é controlada
por uma assessoria de imprensa privada, especialista em gestão de imagem, que acompanha
todos os passos do secretário
dos Transportes e presidente
da CET, Alexandre de Moraes.
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