São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 2003

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DANUZA LEÃO

Dinheiro pouco

Qual é a coisa melhor do mundo? Quem responder, sem hesitar, que é transar, está querendo se exibir: a melhor coisa do mundo depende sempre do momento, da vontade, das circunstâncias.
Se você passar uns tempos numa cela com a temperatura a 42C, comendo uma comida horrenda, dormindo no chão e cercado de 15 infelizes na mesma situação, qual a primeira coisa que vai querer quando chegar em casa? Uma mulher cheirosa e gostosa, louca por uma transa enlouquecida, ou um chuveiro durante 40 minutos, seguido de uma comidinha feita pela própria mãe, aquela?
Responda, do fundo do seu coração -e não vale mentir.
Para quem passou as noites vendo na televisão programas de baixarias e mulheres nuas, não adianta oferecer um ministério: mas um retiro espiritual de um mês, durante o qual ninguém possa falar uma só palavra e os monges se vistam de marrom com uma cordinha na cintura seria irresistível. Tudo, como sempre, depende das circunstâncias.
Tem dias que a gente não quer nada; podem oferecer o céu e o mar, mas não bate. Aí, telefona a ex-namorada que você nunca esqueceu e diz que está indo no dia seguinte para uma praia no Ceará que ainda não está na moda -o que é fundamental- e pergunta se você não quer ir também. O dinheiro está curto, mas dá para parcelar a passagem; o hotel, que não chega a ser um hotel nem uma pousada, é apenas um quarto alugado na casa de algum local e não custa quase nada. Alimentação? Peixe frito com farinha acompanhado de uma cervejinha, que nessas circunstâncias é melhor do que qualquer 300 estrelas do "Guide Michelin". Entre esse programa e fazer um tour gastronômico pelo interior da Itália com tudo pago, qual você escolhe? Nem precisa responder.
Em alguns momentos, você daria 1 milhão de dólares -que aliás não tem- por um táxi; é quando está na rua às 5h30 da tarde debaixo de chuva, cheia de sacolas, e só pensa em uma coisa: chegar em casa. Nessa hora, se tivesse que escolher entre a vida eterna e um táxi, você preferiria o que? O táxi, é claro.
As coisas mais importantes do mundo, como se sabe, não são coisas. Mas mesmo sabendo disso temos que reconhecer que às vezes a mais importante delas é o dinheiro.
Dinheiro é necessário, em primeiro lugar, quando se trata da saúde; mas também para ajudar um amigo, comprar uma passagem para encontrar o namorado de quem está morrendo de saudades e para as coisas mais fundamentais, como viver com um certo conforto. E, sejamos francos, também para alguns supérfluos que fazem com que a vida fique mais colorida: um vestido novo, uma sandália cor-de-rosa, umas pestanas postiças, uns CDs e até umas flores, que não chegam a ser artigo de primeira necessidade mas são lindas; encontrar o que fazer com o dinheiro não chega a ser um problema.
Algumas pessoas que adoram dinheiro nunca falam em real, só em dólares; aliás, só de milhões de dólares, e precisam sempre de muitos deles para serem felizes: para montar uma empresa, comprar uma casa caríssima ou um jatinho (e tem gente que compra até jet-ski, veja só).
Na verdade esses não têm problema algum, porque precisar de grandes somas dá para administrar numa boa.
Difícil, triste e doloroso é quando se precisa de pouco dinheiro.

E-mail - danuza.leao@uol.com.br


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