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DANUZA LEÃO
Dinheiro pouco
Qual é a coisa melhor do
mundo? Quem responder,
sem hesitar, que é transar, está
querendo se exibir: a melhor coisa
do mundo depende sempre do
momento, da vontade, das circunstâncias.
Se você passar uns tempos numa cela com a temperatura a
42C, comendo uma comida horrenda, dormindo no chão e cercado de 15 infelizes na mesma situação, qual a primeira coisa que vai
querer quando chegar em casa?
Uma mulher cheirosa e gostosa,
louca por uma transa enlouquecida, ou um chuveiro durante
40 minutos, seguido de uma comidinha feita pela própria mãe,
aquela?
Responda, do fundo do seu coração -e não vale mentir.
Para quem passou as noites
vendo na televisão programas de
baixarias e mulheres nuas, não
adianta oferecer um ministério:
mas um retiro espiritual de um
mês, durante o qual ninguém
possa falar uma só palavra e os
monges se vistam de marrom com
uma cordinha na cintura seria irresistível. Tudo, como sempre, depende das circunstâncias.
Tem dias que a gente não quer
nada; podem oferecer o céu e o
mar, mas não bate. Aí, telefona a
ex-namorada que você nunca esqueceu e diz que está indo no dia
seguinte para uma praia no Ceará que ainda não está na moda
-o que é fundamental- e pergunta se você não quer ir também. O dinheiro está curto, mas
dá para parcelar a passagem; o
hotel, que não chega a ser um hotel nem uma pousada, é apenas
um quarto alugado na casa de algum local e não custa quase nada. Alimentação? Peixe frito
com farinha acompanhado de
uma cervejinha, que nessas circunstâncias é melhor do que
qualquer 300 estrelas do "Guide
Michelin". Entre esse programa e
fazer um tour gastronômico pelo
interior da Itália com tudo pago,
qual você escolhe? Nem precisa
responder.
Em alguns momentos, você daria 1 milhão de dólares -que
aliás não tem- por um táxi; é
quando está na rua às 5h30 da
tarde debaixo de chuva, cheia de
sacolas, e só pensa em uma coisa:
chegar em casa. Nessa hora, se tivesse que escolher entre a vida
eterna e um táxi, você preferiria o
que? O táxi, é claro.
As coisas mais importantes do
mundo, como se sabe, não são
coisas. Mas mesmo sabendo disso
temos que reconhecer que às vezes a mais importante delas é o
dinheiro.
Dinheiro é necessário, em primeiro lugar, quando se trata da
saúde; mas também para ajudar
um amigo, comprar uma passagem para encontrar o namorado
de quem está morrendo de saudades e para as coisas mais fundamentais, como viver com um certo conforto. E, sejamos francos,
também para alguns supérfluos
que fazem com que a vida fique
mais colorida: um vestido novo,
uma sandália cor-de-rosa, umas
pestanas postiças, uns CDs e até
umas flores, que não chegam a ser
artigo de primeira necessidade
mas são lindas; encontrar o que
fazer com o dinheiro não chega a
ser um problema.
Algumas pessoas que adoram
dinheiro nunca falam em real, só
em dólares; aliás, só de milhões de
dólares, e precisam sempre de
muitos deles para serem felizes:
para montar uma empresa, comprar uma casa caríssima ou um
jatinho (e tem gente que compra
até jet-ski, veja só).
Na verdade esses não têm problema algum, porque precisar de
grandes somas dá para administrar numa boa.
Difícil, triste e doloroso é quando se precisa de pouco dinheiro.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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