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HABITAÇÃO
Grupo admite ação política para pressionar por mais verbas; após confronto, PM conseguiu retirar ocupantes de um dos locais
Sem-teto fazem megainvasão em oito áreas de SP
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em menos de uma hora, movimentos de sem-teto fizeram na
madrugada de ontem uma megainvasão de prédios e terrenos
públicos e particulares em São
Paulo, na primeira onda de invasões simultâneas dos últimos dois
anos e sete meses.
As entidades conseguiram reunir cerca de 5.000 sem-teto e ocuparam oito áreas na capital paulista. Até ontem, eles continuavam em sete delas e só haviam tido problemas com a Polícia Militar em três das invasões.
Na zona sul, a PM deslocou
mais de 20 carros para tirar os
1.500 sem-teto que invadiram um
terreno particular perto do cemitério São Luís. Houve um princípio de confronto e, após serem
atingidos por bombas de efeito
moral, o grupo foi retirado.
A intenção do levante, segundo
a UMM (União dos Movimentos
de Moradia), é fazer reivindicações e pedir mais investimentos
em habitação para as três esferas
de governo: municipal, estadual e
principalmente federal. A UMM
reúne grupos de sem-teto das zonas sul, leste, norte, oeste e central
e tem líderes ligados ao PT.
As críticas à administração do
partido na capital paulista, porém, também fizeram parte da
mobilização. "A moradia no governo Marta ainda não pegou. As
promessas são muito tímidas para uma área que precisa de uma
revolução", disse Evaniza Rodrigues, da direção da UMM.
A maior contestação na administração petista em São Paulo se
refere ao Plano Diretor enviado à
Câmara Municipal, que, segundo
as entidades, contempla pouco
espaço para as Zeis (Zonas Especiais de Interesse Social).
Até agora, Marta Suplicy só havia tido problemas com um grupo
de sem-teto ligado ao PSDB, rival
da UMM e que chegou a invadir a
sede da prefeitura em abril.
Na manhã de ontem, o secretário da Habitação, Paulo Teixeira,
responsabilizou o governo federal
pela falta de investimentos no setor e disse que, apesar da ligação
do grupo com o PT, o partido não
tomou parte nas invasões.
O governo FHC, no entanto, sofreu os principais ataques durante
a megainvasão neste ano eleitoral.
Das oito áreas invadidas (dois terrenos vazios, um galpão e cinco
edifícios), quatro são do governo
federal e quatro são particulares.
Mobilização política
Os sem-teto assumem a mobilização como "política", na tentativa de pressionar a gestão FHC e alertar os pré-candidatos para
que eles discutam em seus programas a destinação de mais recursos para a habitação.
Em ao menos metade das áreas
invadidas, eles não pretendem
nem pedir a instalação definitiva
das famílias no local. O prédio
inacabado da Encol perto da estação de metrô Marechal Deodoro,
por exemplo, só foi invadido em
"solidariedade aos mutuários".
Os sem-teto, porém, prometem
só desocupar os terrenos quando
houver a abertura de negociações
com as três esferas de governo.
A invasão simultânea realizada
ontem, da 0h à 1h, começou a ser
preparada em outubro de 2001.
Ela foi parecida com uma organizada em 1999, quando seis imóveis foram tomados por 6.100
sem-teto. O prédio do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da
Barra Funda, alvo de denúncias
de desvios de verba, foi um deles.
Segundo a Folha apurou, a direção da UMM quer manter as invasões pelo menos até a próxima
quarta-feira, quando representantes da entidade irão até Brasília
para participar de uma audiência
pública para a criação do Fundo
Nacional de Moradia Popular.
Os sem-teto planejavam na
mesma madrugada mais duas invasões, que foram "abortadas"
horas antes. Em uma delas, eles
temeram ter problemas com os
cachorros que protegiam a área.
Na invasão ao prédio do Banco
do Brasil, por exemplo, os organizadores estimam que 70% dos
ocupantes eram mulheres. Uma
delas, Elisa M., 26, estava grávida
de oito meses. "É minha primeira
vez. Se eu tiver algum problema,
eles me levam ao hospital."
A assessoria de imprensa da PM
afirmou que só fará a retirada dos
manifestantes mediante mandado judicial de reintegração de
posse. Segundo ela, a situação ficou tranquila após a invasão.
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