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BRUNO CAVAGLIERI NETO (1986-2008)
Boca preocupava-se com as canetas do Pé
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Bruno Cavaglieri Neto só
não comprou aquela camisa
porque, mesmo bonita, de
nada servia sem um bolso.
Achou que, para o pai, que é
vendedor (e assíduo usuário
de canetas), nada melhor do
que ter onde carregá-las.
Adiou a compra do presente que entregaria anteontem,
numa confraternização em
família, no Dia dos Pais.
Estudante de engenharia
elétrica, Boca, como era chamado pela família, foi trabalhar na imprensa com 19
anos, levado por um amigo.
Colaborador de "O Estado
de S. Paulo", cuidava dos infográficos do caderno de esportes. No penúltimo ano da
faculdade, adorava a rotina
do jornalismo, mas já pensava em exercer a engenharia
depois de formado.
Morador da Brasilândia,
na zona norte de São Paulo,
comprou uma moto para
chegar mais rápido à faculdade e ao trabalho. Na última
quinta-feira, seguia para o
jornal depois da aula, pela
faixa exclusiva de motos, na
avenida Sumaré, quando foi
fechado por um carro que fazia uma conversão proibida,
segundo testemunhas.
Não conseguiu frear.
A rua da casa onde morava,
sempre cheia em datas especiais, amanheceu vazia de
carros no domingo. Boca, filho do Pé (apelido do pai),
não jogou truco com os amigos, como adorava fazer.
Não houve jogo.
Morreu na sexta, aos 21,
em São Paulo, cheio de planos para o futuro com Bruna,
com quem namorava havia
quatro anos. Eram noivos.
obituario@folhasp.com.br
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