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SEM FÔLEGO
Desde 1º de maio, região metropolitana registrou 22 vezes má qualidade do ar, todas por excesso de ozônio
Inverno de SP é o mais poluído em 5 anos
MARIANA VIVEIROS
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Valéria teve princípio de pneumonia e parou no hospital. Gretha está com enxaqueca, dor de
garganta e tosse. Para ambas, a
poluição é um dos principais responsáveis pelos sintomas. E provavelmente elas estão certas.
O inverno de 2004 ainda nem
acabou e, em relação aos últimos
cinco anos, já é o campeão em registro de má qualidade do ar na
Grande São Paulo. Entre 1º de
maio e a última sexta-feira, as estações de medição da Cetesb
(agência ambiental paulista) indicaram por 22 vezes, em nove dias,
que respirar na região metropolitana poderia trazer riscos à saúde
por causa do excesso de poluição.
É a maior freqüência desde 99,
quando o ar foi considerado ruim
(a concentração de poluentes ultrapassou o nível de atenção) por
29 vezes, em dez dias. A marca
ainda pode, porém, ser batida,
pois faltam 18 dias para o fim da
Operação Inverno da Cetesb (de
1º de maio a 30 de setembro).
No mesmo intervalo de tempo,
em 2003, houve 11 registros de ar
ruim, em cinco dias. Em 2002, o ar
esteve ruim por seis vezes, em três
dias; em 2001, por oito vezes, em
quatro dias; e em 2000, por nove
vezes, também em quatro dias.
A qualidade do ar é medida por
23 estações em pontos estratégicos da Grande São Paulo. No conjunto, elas dão um retrato da poluição na região como um todo.
Cada uma mede um grupo de
poluentes, segundo sua localização. O índice de qualidade geral é
determinado pelo pior caso; num
mesmo dia pode haver mais de
um registro de ar ruim.
A comparação com os anos anteriores não pode ir além de 99
por diferenças nas medições (menos estações, por exemplo).
O vilão e as vítimas
Neste ano, como nos anteriores,
o grande vilão do inverno foi o
maior vilão do verão e da primavera: o ozônio (O3).
Ele foi responsável por todos os
registros de má qualidade. Apesar
de não ser característico do inverno, teve altas concentrações nos
dias ensolarados, quentes e secos
do fim de agosto e início deste
mês -o que não é anormal, mas
ocorreu com maior intensidade.
O O3 resulta da reação entre óxidos de nitrogênio (NO e NO2),
emitidos por carros e indústrias, e
hidrocarbonetos (compostos orgânicos de carbono e hidrogênio),
emitidos pelos carros, pela evaporação de combustíveis e por atividades que envolvem tintas, solventes e derivados do petróleo.
O processo de formação é desencadeado pela energia solar.
Temperaturas acima de 25C e
umidade abaixo de 42% ajudam.
Se, na camada superior da atmosfera, o ozônio é benéfico, próximo ao solo pode causar ou agravar irritações nos olhos e vias respiratórias e danificar a vegetação.
Ele tem sido associado ao aumento de admissões hospitalares e já
foi relacionado a um maior número de casos de câncer.
A medicina persegue hoje medidas práticas para aliviar seus
efeitos. O uso de antioxidantes,
como as vitaminas C e E, em pessoas que vivem em áreas muito
poluídas já está em estudo.
Apesar de não ver uma tendência no aumento dos registros de
má qualidade do ar -porque o
intervalo de comparação é pequeno-, a Cetesb diz não ter perspectiva de que as concentrações
de O3 diminuam tão cedo, como
ocorreu com o monóxido de carbono e as partículas inaláveis.
"O ozônio é um dilema mundial
e o seu controle é limitado mesmo
nos EUA e na União Européia",
diz Jesuíno Romano, gerente da
Divisão de Qualidade do Ar da
agência. A dificuldade de combatê-lo reside em dois fatos: é formado por reações químicas complexas que envolvem poluentes de
fontes diversas, diz Maria de Fátima Andrade, professora do Instituto de Astronomia, Geofísica e
Ciências Atmosféricas da USP.
O cenário não é muito animador para as vítimas da poluição.
"Como tenho sinusite e rinite,
todo inverno, quando o ar fica
mais poluído, fico com o nariz
machucado por dentro e com a
garganta arranhando. Mas nunca
tive sintomas tão fortes como neste ano", conta a produtora de
eventos Gretha Rossini, 36.
"Estou com a garganta ruim,
mas não vou ficar me entupindo
de remédios. Tenho de esperar o
clima melhorar", diz a relações-públicas Valéria Santoro, 25, que
teve um princípio de pneumonia.
"Meu médico avaliou que tanto a
poluição como a mudança de
temperatura são os responsáveis
pelo meu quadro atual", conta.
Não há exames que digam com
100% de certeza que um problema de saúde é originado exclusivamente por poluição.
Colaborou FABIANE LEITE, da Reportagem Local
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