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DANUZA LEÃO
Quem nunca comeu melado
Você sabe cantar o Hino
Nacional? Claro, todos sabemos. Mas sabe cantar inteiro, sem
se enrolar no meio? Vamos conferir: tente cantarolar mentalmente, para ver se acerta.
Eu tive um professor de português que mandava, como dever
de casa, que nós, seus alunos, puséssemos a letra do hino na ordem direta para poder entender o
sentido. Você já parou para pensar no que significa exatamente
"Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico
o brado retumbante"?
Simples: na ordem direta, "as
margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um
povo heróico". Nada fácil, a língua portuguesa.
É difícil cantar o hino sem pausa, até o fim. No início vai, mas
depois que acaba a primeira parte e a segunda introdução, não há
quem prossiga e emende, sem hesitação, o "Brasil, de amor eterno
seja símbolo o lábaro que ostentas
estrelado". Passando por essa
prova de fogo, fica tudo fácil de
novo, e preste atenção à próxima
vez em que a seleção for jogar: na
hora do hino, não há um só jogador que cante com firmeza do
princípio ao fim. No meio eles
enrolam; alguns, mais espertos,
quando ouvem os primeiros acordes, botam a mão no coração e ficam mudos.
Pelo andar da carruagem, a
partir de agora, no lugar de ir à
praia ou ao cinema, será mais
prudente ficar em casa decorando
o hino; novos tempos se anunciam e tudo indica que cantá-lo
vai passar a ser obrigatório. Só
não se sabe onde e quando, e é aí
que mora o perigo.
Todos os dias nos colégios, antes
da primeira aula? Só nas cerimônias oficiais, com Lula presente? E
se estiver só o vice, José de Alencar? E o ministro José Dirceu? E o
presidente da Câmara, João Paulo, merece o hino? E o líder, professor Luizinho? Vai tudo depender de Duda Mendonça.
Só não entendi bem a razão de,
no dia da nossa independência,
Lula saudar o povo do alto de
uma Rolls Royce; ah, e d. Marisa
Letícia ao lado, de camiseta verde
sutilmente combinando com a
bandeira, saudando o povo também -segundo dizem, para que
a auto-estima dos brasileiros aumente. Pela parte que me toca, a
minha não subiu nem um centímetro.
Diz o ditado que quem nunca
comeu melado quando come se
lambuza (como o passageiro que
viaja de avião pela primeira vez e
quando a comissária de bordo
pergunta o que ele quer beber,
responde: "quero tudo a que tenho direito"). Essa história é a cara do PT, que adora um melado e
é o rei da lambuzação.
Passei a manhã inteira do Dia
da Independência diante da televisão, esperando ver um close das
autoridades no palanque, para
saber se elas saberiam cantar o
hino inteiro. Não houve closes.
Mas do que senti falta mesmo
foi de uma música que retratasse
este momento tão ditoso da vida
brasileira proporcionado por Lula, como o PT deve achar.
Faltou um bando de jovens alegres e entusiasmados, invadindo
a Esplanada dos Ministérios, cantando algo do tipo "Eu te amo,
meu Brasil, eu te amo, meu coração é verde, amarelo, branco, azul
anil, eu te amo, meu Brasil, eu te
amo, ninguém segura a juventude do Brasil" - lembra?
No ano que vem, talvez.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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