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SAÚDE
Consultar a família do paciente e fazer histórico pormenorizado ajudam a prescrever tratamento correto
Diagnóstico psiquiátrico exige conversas
DA REPORTAGEM LOCAL
O ponto mais importante para
um diagnóstico psiquiátrico correto é muita conversa -às vezes,
não só com o paciente, mas também com sua família. Além de um
acompanhamento acurado da
evolução do caso.
Um histórico pormenorizado é
essencial para distinguir uma
doença de outra. E, mesmo assim,
muitas vezes o diagnóstico só se
confirma depois de algum tempo
de uso do medicamento, por
exemplo -uma boa resposta indica que o tratamento adotado está correto.
A Associação Brasileira de Psiquiatria está em campanha intensa para desmistificar a especialidade e seus procedimentos -fazer com que a ida aos consultórios
de psiquiatras tenha a mesma conotação de uma consulta ao cardiologista, por exemplo.
Há pacientes que ainda consideram um bicho-de-sete-cabeças
ter de ir ao psiquiatra, ou que não
compreendem por que motivo, às
vezes, é tão demorado receber o
"veredicto" desse médico.
"Existe um preconceito contra a
doença psiquiátrica. Há um contingente enorme de pessoas com
distúrbios afetivos, fóbicos, que
apresentam um conjunto de queixas sem explicação e que poderiam ser assistidas por esse profissional", afirma Marco Antônio
Brasil, presidente da associação.
A Organização Mundial da Saúde calcula que 450 milhões de pessoas no mundo sofram de transtornos mentais ou de comportamento (veja quadro). Os dados
mostram ainda que a falta de tratamento vai além do preconceito.
Apesar de os distúrbios responderem por 12% da carga mundial
de doenças, ainda recebem menos de 1% dos gastos totais em
saúde. Mais de 40% dos países carecem de políticas de saúde mental e mais de 30% não têm programas nessa esfera.
Quando é hora?
A própria OMS considera difícil
definir o que são os transtornos
psiquiátricos. Em última análise,
afirma na publicação "Saúde
Mental: Nova Concepção, Nova
Esperança", de 2001, são uma série de distúrbios que se caracterizam por uma combinação de
idéias, de emoções, de comportamento e de relacionamento anormais com outras pessoas.
Os estudos atuais mostram que
doenças como a depressão não
são resultado só da falta de um
neurotransmissor -substância
responsável pela comunicação
entre as células cerebrais. Em
uma analogia com uma máquina
que falha, é todo um circuito que
não funciona direito, e não só a
"falta de combustível" é a razão
do problema.
Coordenador de pesquisas do
grupo de doenças afetivas do
Hospital das Clínicas de São Paulo, o psiquiatra Beny Lafer diz que
o leigo tem condições de saber a
hora de procurar um psiquiatra.
"Se existe incapacitação afetiva,
familiar, a pessoa não consegue ir
ao trabalho ou à escola, está se isolando, é bom procurar o psiquiatra", diz. Para ele, esse é o mais
importante parâmetro para distinguir um sofrimento subjetivo,
um conflito não-resolvido -que
podem ser alvo só do atendimento psicológico -do que pode ser
uma doença psiquiátrica.
Somente o psiquiatra pode
prescrever medicamentos. Mas
eles nem sempre são necessários.
Lafer afirma já ter recebido pessoas que necessitavam, por exemplo, apenas de uma psicoterapia
familiar.
Apesar de muitas vezes haver
demora para chegar a conclusão
sobre um caso, segundo a OMS,
atualmente é possível diagnosticar transtornos mentais de uma
forma tão confiável e precisa como a maioria dos transtornos físicos. A concordância entre dois especialistas apresenta médias de
0,7 a 0,9, na mesma faixa das do
diabetes e hipertensão.
Por que, então, às vezes um
mesmo paciente recebe dois diagnósticos diferentes, como transtorno bipolar -caracterizado pela alternância de fases de mania
com depressão- e distúrbio de
déficit de atenção? Lafer explica
que há sintomas comuns a diferentes tipos de transtorno. Por
exemplo, nos episódios de mania
do transtorno bipolar, é comum o
paciente ter a impulsividade do
déficit de atenção.
Na psiquiatria, é comum, ainda,
haver comorbidade -presença
simultânea de duas doenças. "Aí é
preciso saber o que é mais importante tratar", diz Lafer. Por isso
colher adequadamente a história
do paciente é essencial. Não existe
testes padronizados ou exames
que substituam esse procedimento. Os exames de imagem são utilizados somente para o entendimento do funcionamento do cérebro para efeito de pesquisa. Ou
para investigar determinados pacientes, como quando há dúvida
se o distúrbio não pode ser decorrente de uma alteração estrutural,
como um tumor cerebral.
(FABIANE LEITE)
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