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COMPORTAMENTO
Proposta do prefeito Michael Bloomberg é reação direta à mais evidente consequência de lei antitabagista
Após expulsar fumante, NY quer prendê-lo
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
A cidade de Nova York proibiu
o cigarro em bares e restaurantes,
empurrou os fumantes para as
calçadas e criou um problema de
barulho para os vizinhos. Agora,
em reação à gritaria dos moradores, quer multar duramente e até
prender as pessoas que ficarem
bebendo na rua, uma maneira de
tentar diminuir as reclamações.
A proposta é do prefeito Michael Bloomberg, que mandou na
última semana à Câmara Municipal um pedido de alteração na punição em vigor para pessoas que
bebem na rua -diferentemente
do Brasil, tal comportamento é
ilegal em Nova York.
Hoje, quem é flagrado tem no
máximo que pagar US$ 25 (R$
80), e a idéia é que isso seja significativamente mudado: US$ 150
(R$ 400) ou cinco dias de cadeia.
A proposta de Bloomberg é reação direta à mais evidente consequência da lei antitabagista que
entrou em vigor na cidade há
duas semanas. Proibidos de acender seu cigarro em bares e restaurantes, os fumantes passaram a
sair em peso para as ruas, enchendo as calçadas de cinzas -outra
reclamação feita por quem mora
ao lado dos estabelecimentos.
Nem mesmo as punições anti-sujeira já previstas na legislação
nova-iorquina, com uma multa
de US$ 200, têm evitado a atitude
dos fumantes e os protestos dos
moradores, mas Bloomberg tenta
mais do mesmo remédio para
atacar o problema do barulho
criado pela nova determinação.
A lei antitabagista nova-iorquina é semelhante à existente em
outras cidades do mundo, e pelo
menos dois países, Irlanda e Noruega, já anunciaram que vão
adotá-la para todo seu território.
Em Nova York, muita gente tem
dito que será estranho se acostumar com a nova ordem. Em resposta, Bloomberg lembra que
anos atrás era possível fumar em
cinemas e estádios. "Paramos
com aquilo porque ninguém queria ir ver um evento com um ambiente enfumaçado. Houve as
mesmas discussões nos jornais,
uma semana depois as histórias
foram embora da mesma forma
que a fumaça", diz ele.
O prefeito embasou sua argumentação para defendê-la na saúde dos funcionários de bares e
restaurantes, sujeitos a largos períodos como fumantes passivos.
Mas, além da óbvia oposição de
fumantes, teve que enfrentar as
críticas de donos de bares e restaurantes, que vêem na lei mais
um golpe em seu faturamento.
Não que isso pareça comover alguém. Na cidade, a situação dos
fumantes é tão ruim que nem a
oposição política os ajuda. Por
exemplo: além de Bloomberg, que
já se declarou candidato a um segundo mandato, há outros sete
nomes considerados pré-candidatos à prefeitura de Nova York, e
só dois deles acham que a lei deve
ser revista. Pior ainda, o Estado de
Nova York acaba de aprovar lei
ainda mais dura, que entrará em
vigor nos próximos meses.
Dias atrás, Bloomberg foi a um
cinema, parte de sua campanha
para mostrar à população que
acredita que a cidade está segura
em relação ao terrorismo. À sua
maneira, não perde a pose e nem
a oportunidade, aproveitando para apontar: "Ninguém fica do lado
de fora e fuma. Vai ser a mesma
coisa. As pessoas vão olhar para
trás e dizer: "Então eles permitiam
que se fumasse naquela época?
Que arcaico'".
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