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ENTREVISTA
Lupus tem nova alternativa de tratamento, diz reumatologista
DA REPORTAGEM LOCAL
Pacientes com lupus já podem
utilizar menos cortisona e substituí-la por uma droga -mofetil
micofenolato- já utilizada no caso de rejeição de transplantes. No
país, há cerca de 4 milhões de portadores de lupus eritematoso sistêmico (LES), uma doença crônica de causa desconhecida que afeta o sistema imunológico.
A pessoa desenvolve anticorpos
que reagem contra as células normais, ou seja, torna-se "alérgica"
dela mesmo. Podem ser afetados
a pele (manchas e lesões), as articulações (artrite), os rins, o pulmão e outros órgãos.
Segundo o médico Morton
Scheinberg, 58, clínico e pesquisador em reumatologia e imunologia do Instituto de Pesquisa do
Hospital Israelita Albert Einstein,
a nova alternativa de tratamento
foi uma das principais novidades
do último congresso internacional de lupus, realizado no mês
passado em Nova York (EUA).
Ele afirma que a droga bloqueia
a exacerbação do sistema imune
no lupus e mostrou ser promissora para o tratamento de diversas
manifestações da doença.
A seguir, alguns trechos da entrevista concedida à Folha.
(CC)
Folha - O que muda no tratamento do lupus com essa droga?
Morton Scheinberg - O tratamento clássico do lupus envolve
doses variáveis de cortisona e de
ciclofosfamida [uma medicação
imunossupressora]. No caso de
certas manifestações clínicas no
rim, no sangue e no sistema nervoso central, é necessário adicionar também outras drogas imunossupressoras.
A substância mofetil micofenolato, utilizada para evitar a rejeição de transplantes, parece substituir a cortisona com vantagens
no controle das manifestações renais em casos em que o tratamento tradicional não surte efeito, o
que acontece em um terço dos casos. Atualmente o médico tem
mais flexibilidade para o diagnóstico e novos recursos de tratamento para esse mal que afeta
tantos brasileiros.
Outra droga é a Rituximab,
também usada no tratamento de
gânglios linfáticos (linfoma). Há
evidências acentuadas de que ela
pode debelar os casos de inflamação dos rins que não respondem
ao tratamento convencional.
Folha - Em que estágio o lupus é
diagnosticado hoje no Brasil?
Scheinberg - A doença, quando
intensa em suas manifestações, é
detectada rapidamente, apesar de
às vezes estar em estágios mais
avançados. Mas, quando há poucos sintomas, pode ser confundida com outros tipos de reumatismo e o tempo de diagnóstico fica
bem variável.
Folha - Esses medicamentos estão disponíveis na rede pública?
Scheinberg - Os pacientes que
dependem do sistema público
[rede básica de saúde] talvez tenham dificuldade de utilizar os
novos medicamentos, entretanto
é inevitável que eles terão acesso
devido à eficácia comprovada
desses medicamentos. Os pacientes que são atendidos pelos convênios médicos devem reivindicar que seus planos cubram os
custos da droga.
Folha - Durante o congresso, foi
criado também o Dia Internacional
do Lupus, em 10 de maio. Em que
isso pode ajudar os doentes?
Scheinberg - É uma forma de
conscientizar os pacientes, familiares e os serviços públicos que
tratam doenças crônicas para a
importância do diagnóstico precoce e o acompanhamento dos
doentes. Já sabemos que existe
uma maior incidência de arteriosclerose e osteoporose em pacientes com lupus e ambas condições
podem ser prevenidas com a
identificação precoce da doença.
É preciso também atenção para
as manifestações clínicas mais
graves da doença, que ocorrem
em pacientes da raça negra e de
origem hispânica.
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