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VIDA RELIGIOSA
Para pesquisador, comunidades rurais, que forneciam grande número de noviças, foram afetadas pela urbanização
Número de candidatas a freira cai 71% em 40 anos
DO "AGORA"
Houve um tempo em que a vida
religiosa se apresentava como
única opção ao casamento na vida
das moças brasileiras. Aquele
tempo já passou e o que a Conferência dos Religiosos do Brasil viu
surgir em seu lugar é a queda em
71% do número de candidatas à
vida religiosa nos últimos 40 anos.
O Brasil tem 1.558 noviças, moças que em breve estarão fazendo
os votos de obediência, pobreza e
castidade, colocando-se a partir
daí à disposição da Igreja Católica. Em 1970, o noviciado brasileiro contava com 1.450 jovens. O
número aponta cada vez menos
vocações, já que, no mesmo período, a população feminina no
país praticamente dobrou.
Atualmente, as religiosas formam uma comunidade de 35.732
irmãs, cuja idade média está na
casa dos 60 anos. Esse, aliás, é outro dado que atesta a falta de vocações nas últimas décadas. "Nos
últimos anos, principalmente, as
jovens têm se mostrado inseguras
para assumir um compromisso",
diz a irmã Lídia, que há 58 anos
faz parte da congregação das
Monjas Beneditinas do Mosteiro
de Santa Maria.
Quem assume, entrega-se a regras rígidas. As irmãs beneditinas
vivem uma vida contemplativa,
em clausura. Seus dias são preenchidos por orações e trabalhos
domésticos. Saídas do convento,
só com autorização e em situações especiais.
Para Fernando Altemeyer Júnior, professor do departamento
de ciências da religião da PUC-SP,
a queda no número de religiosas
está também relacionada à modernização da sociedade. "A urbanização pôs em xeque um
grande celeiro de vocações, que
eram as comunidades rurais", diz.
Ainda que faltem vocações, o
processo de seleção para a vida religiosa é bastante rigoroso. Antigamente, as moças eram enviadas
para conventos por influência da
família por volta dos 12 anos, e lá
ficavam, sem muito questionar. A
noviça de agora precisa ter o 2º
grau completo e já ter completado
os 18 anos.
Além disso, fala mais alto a intenção. "Nós temos um grande
cuidado em avaliar se a vontade
da moça em ingressar na vida religiosa se trata de uma vocação ou
apenas uma tentativa de fuga, por
conta de uma decepção, seja familiar ou amorosa", diz a irmã Mari,
da congregação das Irmãs de Santo André, no bairro Pompéia.
As irmãs dessa congregação
-fundada na Bélgica, em 1231-
aboliram o hábito há mais de 30
anos e, diferentemente das irmãs
beneditinas, têm uma vida bastante ativa na sociedade, desenvolvendo trabalhos junto a comunidades carentes. "Incentivamos
que as irmãs continuem os estudos e façam faculdade", explica a
irmã Mari.
Com as monjas beneditinas é
diferente. Elas trocam até de nome e cortam todo o contato com o
mundo exterior. "Nos dedicamos
a uma vida de oração e recolhimento", diz a irmã Lídia, que antes de ser freira se chamava Maria
Bernadete. "Ser freira não é uma
tarefa fácil. A rotina é dura, exige
dedicação e obediência. Só consegue quem realmente quer."
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