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CIDADANIA
Decisão da Justiça gaúcha permite a cônjuge francês de gaúcho pedir visto permanente e comprar bens em conjunto
Casal gay desfruta vantagens da união civil
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
O agente de turismo Farid Ait-El-Haidi, 27, e o aviador Paulo Ricardo Garcia Carneiro, 29, unidos
formalmente como casal por registro em cartório desde o último
dia 5, pretendem, nesta semana,
passar do sentimento de "quase
felizes" para o de "completamente felizes". As conseqüências práticas da união civil já sacramentada começarão a aparecer.
A partir de amanhã, com o famoso "papel passado", Farid, que
é francês e conta com um precário
visto brasileiro de turista, poderá
pleitear o permanente e adquirir
bens em conjunto com seu companheiro. Ou seja, os dois já se
sentem habilitados a fazer planos
como qualquer outro cidadão.
O que mudou a vida de pelo menos dez casais homossexuais que
já se uniram em cartório em pouco mais de uma semana foi o parecer da Corregedoria Geral do
Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul, do último dia 4, que orienta os cartórios gaúchos a registrar
uniões de casais do mesmo sexo.
Na prática, o registro em cartório
funciona como uma declaração
de união afetiva e duradoura, com
o casal registrando suas vontades.
Amanhã, quando Carneiro retorna de um vôo a Porto Alegre,
os dois vão tratar dos seguintes
projetos: dependência de Farid no
plano de saúde de Carneiro, Previdência e casa própria. Mais: Farid buscará, na nova condição,
seu visto permanente.
"Pronto, poderemos nos sentir
mais seguros e tocar nossa vida
como qualquer outro casal", diz
Farid, no apartamento de um
dormitório que eles alugam em
um bairro periférico de Porto Alegre, o Intercap.
Atualmente, como tem visto de
turista, Farid viaja trimestralmente para o exterior (Uruguai, Argentina, Paraguai ou França) só
para voltar e renová-lo.
"Por enquanto, sinto-me inseguro. Em Paris, eu era agente de
viagem. Aqui, cuido da casa. Quero poder trabalhar fora. Até agora, se o Paulo resolvesse dizer para
eu deixar o apartamento, eu ficaria absolutamente sem nada. Desde o dia 5, temos tudo o que há no
apartamento e o carro dividido
em 50%. É claro que não penso
em uma crise conjugal, mas estou
nas mãos do Paulo", afirma.
O casal está há cinco anos e quatro meses juntos. Farid mora há
sete no Brasil. A união civil de Farid e Carneiro teve até direito a
festa no último dia 5.
Os dois se reuniram com os
amigos Adolfo Bondan, 45, e
Marcos Rezende, 44, estouraram
uma champanhe e cortaram bolo.
Bondan, que é professor, e Rezende, que é aeronauta, também sacramentaram sua união, após 20
anos compartilhando a vida em
comum, vivendo como casal.
Nem todos os casais de homossexuais, porém, já fazem planos a
curto ou médio prazo.
Muitos preferem ter cautela, como qualquer casal heterossexual,
e prolongar a fase do namoro antes de tomar uma decisão.
"Nós não pensamos para já em
união civil porque namoramos há
pouco tempo. Mas vibramos com
a novidade. É uma maravilha termos essa perspectiva. Nosso envolvimento é de apenas um ano e
dois meses. A união é coisa séria",
afirma o ator Fernando Tecoits,
30, que namora o também ator
Alex Konze, 23.
São a mesma situação, circunstância e discurso do casal Rodolfo
Mello, 26 (comerciante e produtor de eventos), e David Pereira,
20 (cabeleireiro). Eles namoram
há nove meses e querem se conhecer melhor. "Não é porque temos uma novidade dessas que vamos agir prematuramente. Todo
o casal, para se unir, tem de pensar bem antes", diz Mello.
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