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SAÚDE
Instituições de primeira linha abrem a possibilidade para médicos se reciclarem sem precisar sair do país
Hospitais criam cursos de especialização
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Se você sabe fazer muito bem
uma coisa, se importaria de ensinar isso a alguém? Os hospitais
privados de primeira linha estão
adotando essa atitude: descobriram que, além de cuidar bem de
seus pacientes, podem ensinar
profissionais de outras instituições a fazerem o mesmo. Todo
mundo pode sair ganhando, inclusive o paciente do SUS.
Em lugar de fazer estágios lá fora ou correr o risco da defasagem,
médicos especialistas podem fazer reciclagens aqui mesmo. A
operação rende um fundo pago
pelos "alunos-especialistas" e em
troca repassa conhecimentos e
tecnologias inovadoras.
Mais que isso, os cursos oferecem a possibilidade de "colocar a
mão na massa". É este, aliás, o termo usado no meio médico:
"hands on" -cursos que permitem ao profissional executar tarefas colocando a "mão na massa".
"Técnicas novas são treinadas
em animais", diz Roberto Padilha, coordenador da pós-graduação e diretor do Instituto de Ensino e Pesquisa do Sírio Libanês,
aberto em dezembro.
Amanhã, segunda, será a vez de
o Hospital Albert Einstein lançar
a "primeira universidade corporativa do segmento hospitalar do
país". Vai se chamar UISAE, Universidade Israelita de Saúde Albert Einstein, em parceria com o
já existente Instituto de Ensino e
Pesquisa do próprio hospital. A
aula inaugural será dada pelo ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso (leia texto ao lado).
Não significa que os hospitais
estão a virar escolas médicas. Significa que sua experiência, equipamentos e tecnologias -muitas
vezes só encontrados lá fora- estão sendo colocados à disposição
para a reciclagem e aperfeiçoamento em superespecializações
de médicos aqui no Brasil.
Uma resolução da Câmara de
Educação Superior do Conselho
Nacional de Educação -a de número 1, de 3 de abril de 2001- autorizou instituições que não sejam de ensino, como hospitais e
tribunais de Justiça, a oferecerem
cursos de especialização. Na prática, já fazem isso instituições como a Santa Casa do Rio, a Escola
de Saúde Pública do Rio Grande
do Sul e meia dúzia de outras.
Em São Paulo, a primeira a se
valer dessa resolução foi a Beneficência Portuguesa, que tem uma
escola de enfermagem desde 1962
e que a partir da resolução do
MEC transformou o hospital em
centro de ensino e especialização.
O hospital, que atende a uma
maioria do SUS, é referência em
várias áreas e oferece curso de
pós-graduação "lato sensu" (diferente do mestrado formal) em
seis grandes áreas, com mais de 25
cursos. Os "alunos", como em todos os cursos oferecidos pelos
hospitais, já são médicos com residência e especialização. "Podemos atender 80 por ano, mas a
procura é grande e a seleção, apertada", diz Salomão Benabou,
coordenador-geral do centro de
pós-graduação da Beneficência.
Em hospitais pagos, como o Sírio, os cursos de um ou dois anos
custam cerca de R$ 800 por mês.
Todos os bons hospitais de São
Paulo caminham nessa direção.
Entre eles, o São Luiz e o Hospital
Alemão Oswaldo Cruz, referência
em enfermagem, ortopedia e gastroenterologia, entre outras áreas.
O Hospital 9 de Julho criou uma
estratégia de "educação continuada", aberta a profissionais de fora.
"Em um ano, um médico que não
se atualiza está defasado", diz Cid
Gusmão, presidente do Centro de
Estudos e Pesquisas do 9 de Julho.
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