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VIOLÊNCIA
Estudo mapeia regiões da capital onde é maior a possibilidade de que jovens se envolvam com a delinquência
"Contágio" pelo crime ameaça extremos de SP
ALESSANDRO SILVA
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um terço dos jovens da cidade
de São Paulo vive em regiões de
elevado risco de contágio pela
violência urbana. São 336,1 mil
adolescentes com idades entre 15
e 19 anos expostos a situações cotidianas que podem abrir caminho para a delinquência.
Essa exposição direta e constante não provoca, necessariamente,
uma "contaminação" -assim
como ocorre com o organismo
humano, há pessoas que são mais
resistentes do que outras e acabam não sendo afetadas.
Mas existe o risco. A identificação da fragilidade dessas áreas de
São Paulo deveria orientar a aplicação de recursos públicos para
prevenir a violência, segundo a
socióloga e demógrafa Felícia Reicher Madeira, diretora-adjunta de
análise socioeconômica da Fundação Seade (Sistema Estadual de
Análise de Dados).
A pesquisadora acaba de criar
um índice inédito para medir o
que ela chama de ""vulnerabilidade juvenil" -o IVJ. Trata-se de
um mecanismo desenvolvido para avaliar o quanto os adolescentes podem estar ""sensíveis à possibilidade de serem contaminados por algum processo de transgressão", como ela define.
E não faltam oportunidades de
ingresso no mundo do crime, seja
pelo contato com traficantes, gangues ou pequenos delitos. Há na
cidade 1 milhão de desempregados -9,6% da população-, com
maior avanço entre os jovens de
18 a 24 anos e acima dos 40.
Entre os autores de sequestro
-o crime que mais cresceu no
Estado desde 2000- presos neste
ano há um perfil que se destaca:
eles são jovens -têm entre 18 a 30
anos (75%)-, de baixa renda e
estão desempregados (90%), conforme pesquisa da Polícia Civil.
Na Febem (Fundação Estadual
do Bem-Estar do Menor), hoje,
45% dos adolescentes internados
por terem cometido infrações saíram da capital -1.800 garotos.
Classificação
Pelo método da Seade, os bairros paulistanos foram classificados em cinco grupos, conforme
pontos que acumularam segundo
uma série de indicadores sociais.
Logo abaixo do grupo mais vulnerável, vivem outros 336,1 mil
jovens de 15 a 19 anos -31% do
total dessa população. Nos dois
grupos de bairros mais vulneráveis vivem hoje 65% dos jovens
dessa idade.
A intenção da Seade é aperfeiçoar o método porque os distritos
apresentam diferentes cenários
de risco de contágio. Esse detalhamento, diz Madeira, ajudaria a focalizar mais os locais que precisam de intervenção do Estado.
O IVJ (Índice de Vulnerabilidade Juvenil) foi elaborado a pedido
da Secretaria de Estado da Cultura, que tenta financiamento do
BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento) para a implantação de programas na periferia
da capital e precisava comprovar
a necessidade dos recursos.
O índice da Seade se preocupou
com os jovens, segundo Felícia
Madeira, porque a adolescência é
um período de vida turbulento, o
que torna essa população mais
vulnerável à contaminação.
Prova disso é que a morte violenta entre os jovens no país, por
homicídio, fez a estatística de assassinatos crescer. A taxa nacional de vítimas entre jovens de 15 a
24 anos passou, em duas décadas,
de 30 (1980) para 52,1 (2000) por
grupos de 100 mil, de acordo com
o estudo ""Mapa da Violência 3",
elaborado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura) e divulgado no início de maio.
No restante da população, porém, a taxa de mortalidade violenta manteve-se estável, de 21,3 para
20,8 por grupo de 100 mil no mesmo período. Nas capitais brasileiras, 43% das mortes entre os jovens foram provocadas por homicídios, enquanto a média do
país ficou 4,7%. Em São Paulo, a
taxa de mortalidade nessa faixa
etária foi 138,8, mais que o dobro
da média do país -52,1 homicídios por 100 mil jovens.
Outro fato que chamou a atenção da pesquisadora foi a ""onda
jovem" que atingiu o país na década passada, resultado ainda do
""baby boom" na década de 70.
""Mesmo com a queda de fertilidade no país, houve um grande número de nascimentos dessa geração [dos anos 70"", afirma a matemática e demógrafa Alícia Bercovich, da coordenação do comitê
do censo 2000 do IBGE.
Na década de 80, a população de
jovens (15 a 24) recebeu um incremento de 3,7 milhões de pessoas.
Nos anos 90, esse número saltou
para 6 milhões, conforme estudo
feito por Madeira e Bercovich.
E justamente uma parte dessa
população, mais precisamente de
20 a 24 anos, que tenta se encaixar
no restrito mercado de trabalho.
A estimativa é que a população
brasileira jovem cresça bem menos nos próximos dez anos, perto
de 200 mil, conforme estimativa
do estudo sobre a ""onda jovem".
Enquanto isso, irá aumentar a população de idosos no país e carências de políticas para esse grupo.
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