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NO SAMBÓDROMO
Desfile deste ano, que começa na sexta-feira, é monotemático e deve abordar os 450 anos de São Paulo
Escolas querem mostrar as faces da cidade
SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em duas noites, 16 escolas tentarão se superar no desafio de
manter uma unidade temática
sem perder a mistura de estilos e
criatividade que as diferencia. Em
verde e branco, cor de rosa, azul,
dourado ou vermelho, começará
na sexta-feira, na pista do Sambódromo do Anhembi, o desfile do
Carnaval dos 450 anos de fundação da cidade de São Paulo.
Em comum, na criação em torno do aniversário da cidade, os
carnavalescos tiveram o olhar para o passado, de onde recolheram
idéias e inspirações. Para engendrar o enredo, inseriram a vila colonial, misturaram alegorias dos
tempos áureos do café e citaram
orgulhosamente a formação do
parque industrial no século 20.
Em opções marcadamente culturais, as escolas realçaram a importância dos estrangeiros na formação do que seria a identidade
paulistana e, para contar sua história e surpreender o público, todas prometem um elemento inédito, seja em tamanho, tecnologia
ou efeitos especiais.
"As escolas modernizaram suas
estruturas, estão investindo mais
em efeitos cenográficos, em iluminação. Com certeza, teremos
um Carnaval com mais infra-estrutura e qualidade", afirma o diretor de Carnaval da Liga das Escolas de Samba de São Paulo,
Lourival de Almeida Campos.
Mesmo com toda a produção,
serão expostos pelos carros alegóricos e foliões os símbolos mais
popularmente associados ao Brasil e a São Paulo: o índio e a natureza, o português colonizador, a
São Paulo que nunca pára, a culinária diversificada e um certo ufanismo que costuma estar presente
em grandes festas.
Gaviões e as revoluções
Bi-campeã, a Gaviões da Fiel arrecadou R$ 1,5 milhão para cantar
e sambar as revoluções paulistanas. Com um carnavalesco acostumado com as apresentações cariocas, Roberto Szaniecki, a escola
promete novidades nos carros,
que, segundo ele, não fariam feio
no tradicional Carnaval do Rio.
Passando pelas revoluções, mas
revivendo a história dos imigrantes, a Mocidade Alegre mostrará,
em preto e branco, a São Paulo
antiga. A evolução do desfile será
a própria transformação de uma
vila provinciana em metrópole.
Também atenta à história, a Rosas de Ouro usará monumentos
para falar sobre São Paulo. Estarão na avenida o Borba Gato, polêmica estátua de Santo Amaro, o
monumento do Ipiranga, a arquitetura de Ramos de Azevedo e os
marcantes edifícios que se espalham pelos bairros nobres e de negócios da cidade.
Mais focadas em um terreno delimitado, Acadêmicos do Tatuapé, Camisa Verde e Branca, Vai-Vai e Imperador do Ipiranga escolheram seus respectivos bairros
como assunto. A primeira, com
ajuda de empresários da região,
conseguiu R$ 1 milhão para seu
desfile, que terá, logo no primeiro
carro, um tatu gigante andando
em uma floresta- cenário primitivo do território.
Vai-Vai promete polêmica
A Vai-Vai é outra que aposta na
história do Bixiga para preencher
seus cerca de 60 minutos de show.
A imigração italiana e a formação
das acolhedoras cantinas serão o
destaque do desfile, que, anuncia
o carnavalesco Lane Santana, se
encerrará com uma polêmica.
A Unidos do Peruche também
poderá chocar espíritos mais puritanos, ao levar para o sambódromo mendigos e prostitutas,
abrindo um show que salientará
as diferenças sociais. Ainda falando sobre exclusão, a Unidos de
Vila Maria lembrará a dificuldade
de sobrevivência dos que constróem a cidade, mas dela não podem usufruir.
Sozinha em sua escolha, a Barroca Zona Sul vai apresentar ao
público um desfile sobre fé, tolerância e sincretismo religioso-
sempre apegada à história, contando a chegada das diversas religiões à capital paulista.
Se não faltará história, também
não haverá escassez de comida, ao
menos nas delimitações do
Anhembi. Um trio formado pela
Águia de Ouro, X-9 e Acadêmicos
do Tucuruvi levará a diversidade
gastronômica e a abundância de
alimentos para o sambódromo.
Bienal no samba
Já o trio Nenê de Vila Matilde,
Leandro de Itaquera e Império da
Casa Verde exaltará a cultura e as
artes. Última escola a entrar na
avenida, a Nenê preparou os carros alegóricos e as fantasias para
brilharem com a ajuda do sol no
início da manhã. A escola homenageará as Bienais de São Paulo,
trazendo as fantasias das alas inspiradas em obras de cada exposição de artes plásticas.
De acordo com o carnavalesco
Raul Diniz, serviram como inspiração para as fantasias artistas como Anita Malfatti, Cândido Portinari e Lasar Segall, por exemplo.
"Vou falar de uma arte que o povo
não tem muito acesso. Vamos ser
a última escola, e vamos terminar
falando de São Paulo de uma forma bem ampla", diz.
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