São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Os professores Fernando e Fernandinho
O presidente Fernando Henrique Cardoso usou, na semana passada, a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios
(Pnad) para uma espécie de direito de resposta e, num tom professoral, tentou dar uma aula sobre
a realidade social brasileira. Uma análise equilibrada dos dados lançados na semana passada indica que, no geral, o Brasil vem evoluindo socialmente. Há mais gente -e por mais tempo- nas escolas, cresce o número de matrículas no ensino superior, as mulheres avançam nas empresas, o trabalhador está mais instruído, diminui o trabalho infantil, as residências dispõem de mais telefones e computadores. Interessado em vender sua bandeira de salvador do emprego, um diferencial em relação aos tempos de FHC, José Serra não se preocupa em mostrar, com a devida clareza, que milhões de vagas foram abertas. De 1993 até o ano passado, abriram-se mais 9 milhões de vagas, o que não foi capaz de atender à demanda. Se não interessa a Serra falar sobre esses dados (afinal, ele ficaria na defensiva e tiraria o impacto do projeto Segunda-Feira, com sua promessa de 8 milhões de empregos), interessa muito menos a Lula, autor da promessa de 10 milhões de empregos. Com todos os percalços, avançamos socialmente, mas nunca a nação se sentiu tão fragilizada: o melhor retrato dessa fragilidade era a bandeira vermelha do Comando Vermelho, hasteada no tal presídio de segurança máxima. Vimos todos a tranquilidade e os risos de Fernandinho Beira-Mar, sinais da suposição de que, esteja onde estiver, terá proteção. Há um estoque enorme de desempregados, de subempregados e de pessoas com baixa qualificação -a mão-de-obra barata dos Beira-Mar. Gerar emprego em sociedades com esse nível de tecnologia é mais difícil; máquinas engolem vagas. E, como todos sabem, não se vai produzir crescimento acelerado. As despesas sociais do governo subiram de R$ 113 bilhões para R$ 172 bilhões, mas, mesmo assim, não temos a sensação de que as cidades estejam mais civilizadas, de que as escolas públicas tenham melhorado consideravelmente, de que as ruas estejam mais seguras ou de que os hospitais públicos recebam melhor os pacientes. Será que o candidato eleito terá muito mais dinheiro parta gastar, levando-se em conta os apertos fiscais? Isso significa que o governo FHC seja uma tragédia social e que o futuro presidente ou governador tenha pouco a fazer? Nem uma coisa nem outra. Significa que as ilusões dos candidatos, embalados pelos marqueteiros, são uma bobagem. A verdade, que não aparece nos anúncios milionários da campanha eleitoral, ensinada pelos professores Fernando e Fernandinho, é singela: a evolução social de um país é obra de gerações, com maciços investimentos em educação, aliada a competência administrativa e a envolvimento comunitário. O que se faz hoje em educação trará resultado em dez anos. O Brasil de hoje está mais rico, mais educado, porém mais violento; até a distribuição de renda está menos ruim. Se pensarmos na violência, o Brasil de ontem, muito mais pobre e deseducado, era um paraíso. Sou do tempo (e nem faz tanto tempo assim) em que as crianças andavam sozinhas e tranquilas no centro de São Paulo. As políticas de combate à exclusão são complexas, exigem uma teia de parcerias, uma reestruturação dos gastos e investimentos permanentes, que vão da pré-escola, nossa maior omissão na área social, ao desenvolvimento de políticas específicas e nacionais para a juventude. Nenhum dos candidatos, seja da oposição, seja da situação, teria a capacidade de dizer, claramente, que o Brasil do pleno emprego, acenado na campanha, é um efeito especial de marketing. P.S. - Está circulando pela internet um texto atribuído a mim, com ataques pessoais a Lula. É uma fraude. O que escrevo é publicado nas minhas colunas. E-mail - gdimen@uol.com.br Texto Anterior: Mortes Índice |
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