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SAÚDE
Escovação correta e uso de fio dental ajudam a evitar problemas; idosos sofrem
com desinformação
Higiene preserva dentes até a velhice
FABIANE LEITE
BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os cientistas até hoje não têm
evidências de que o envelhecimento tenha relação com a perda
dos dentes. Eles podem durar a vida inteira, desde que bem tratados com escovação e fio dental.
No dia-a-dia dos consultórios,
no entanto, o que os dentistas ainda vêem são pacientes idosos tão
certos da perda dos dentes que
desistem dos cuidados de higiene.
"Eles ficaram alijados da assistência bucal adequada. Temos dificuldades para promover saúde
nessa faixa etária e isso é a causa
das perdas dentárias que ainda
acontecem", afirma Dalva Maria
Padilha, professora de odontogeriatria na Universidade Federal
do Rio Grande do Sul.
"Há idosos de 80 anos que nunca receberam informações sobre
saúde bucal", diz Fernando Luiz
Brunetti Montenegro, membro
do grupo de pesquisa em odontogeriatria do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e
Tecnológico.
Na faixa de 65 a 74 anos, 64% da
população paulista é desdentada,
segundo resultado de estudo divulgado em novembro pela Secretaria da Saúde do Estado de São
Paulo. Só 10% possuem mais de
20 dentes, quando o percentual
deveria ser de 50%, de acordo
com o padrões da Organização
Mundial da Saúde.
Os idosos também apresentaram a maior proporção (12%) de
alterações em tecidos moles, como a gengiva, e eram os que menos frequentavam o dentista -a
maioria tinha feito a última consulta havia três anos ou mais.
O advogado Helio Santoro, 75,
revela que só aprendeu a escovar
os dentes da maneira correta há
cerca de um ano. Ele corria risco
de perder todos os dentes. E a culpa não é dele, de acordo com a
dentista Denise Tibério Luz, que
faz atendimento voluntário de
idosos na Universidade Federal
de São Paulo. "Ela não só restaurou os meus dentes como a mim
mesmo. Fiquei com gengiva de
nenê", conta o advogado.
Boca seca
A orientação sobre higienização
ao idoso deve levar em conta suas
limitações (veja quadro de dicas).
A limpeza da língua é uma das
principais preocupações dos dentistas, para a eliminação de resíduos que ficam nas papilas.
A "boca seca" (xerostomia) é
apontada como um dos problemas mais frequente na faixa etária. A saliva tem uma função limpadora, além de proteger dentes,
mucosas e tecidos moles da boca.
""Se o paciente não tem esta
proteção, é maior a chance de
problemas de gengiva e cáries",
diz Montenegro. Em razão do recuo da gengiva, a maioria das cáries de idosos surge na região da
raiz do dente.
No envelhecimento saudável,
pode existir uma pequena diminuição do fluxo de saliva. Mas, segundo Montenegro, autor de um
dos poucos livros nacionais sobre
odontogeriatria, os remédios utilizados por idosos são uma das
causas mais importantes da potencialização do problema. O médico pode indicar um remédio
que não cause esse efeito.
Depois de analisar 440 grupos
farmacológicos, Montenegro
concluiu que 36,6% causavam a
"boca seca". Outros 4,32% levavam à hipersalivação, e 2,5%, a alterações nas glândulas salivares. A
saliva também auxilia na fixação
de próteses e limpa as papilas gustativas, o que permite que o idoso
saboreie melhor os alimentos e
não tenha de exagerar em açúcar
(prejudicial aos dentes e ao diabetes) e sal (ruim para a hipertensão) para sentir gostos. Há também doenças que causam o problema, o que deve ser investigado.
A odontogeriatria foi reconhecida como especialidade pelo
Conselho Federal de Odontologia
há cinco meses. Segundo Carlos
Werner, presidente da Sociedade
Brasileira de Odontogeriatria, as
escolas que quiserem poderão
adaptar seus currículos. "A odontogeriatria deverá ser o principal
segmento. Um número cada vez
maior de pessoas vai precisar de
atendimento. Em 20 anos, a população de idosos no país saltará
para 30 milhões."
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