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DANUZA LEÃO
Mistério
Mas afinal, por que as pessoas querem tanto o poder?
Será que é tão bom assim ser poderoso? A primeira coisa que eles
perdem é essa coisa preciosa chamada privacidade. Se um famoso
ou poderoso fica doente, a imprensa publica os resultados dos
exames de sangue com os níveis
de colesterol -o bom e o ruim-,
do eletrocardiograma e ainda de
todos os outros, aqueles bem
indiscretos.
Francamente: alguém merece
ver estampados nos jornais
detalhes sobre sua saúde que só
deveriam ser do conhecimento da
mãe e dos médicos (cônjuges,
nem pensar)?
Famosos e poderosos não têm o
direito a ter mau humor ou cansaço, a bocejar no meio de um discurso, a comer muito ou deixar a
comida no prato, a tropeçar, a entrar num motel, a ir embora dos
lugares na hora em que tiver vontade, e melhor que tudo: sair sem
se despedir e pegar o primeiro táxi que passar, sozinho.
E as vantagens? Deve ter alguma, claro, ou as pessoas não fariam tudo na vida para chegar lá.
Mas quais são elas?
A primeira: ter um bando de
gente em volta concordando com
tudo o que eles dizem e fazendo
tudo o que seu mestre mandar,
aquele monte de assessores de terno preto prontos a satisfazer todos -ou quase todos- seus desejos. E dar um emprego a um,
um cargo importante a outro, saber que pode mudar a vida das
pessoas -quem foi sempre fiel
pode até ser mandado para o exterior, quem não foi pode perder o
emprego-, sentir no olhar delas
o agradecimento eterno, se achar
um pouco Deus, e isso não é legal?
Bom também é poder escolher o
avião em que vai viajar pelo
mundo, até dar palpites na decoração, e o melhor de tudo: sabendo que esse luxo não vai pesar no
seu bolso nem custar nada. Bem,
custar vai, mas dinheiro do governo é uma coisa meio vaga, não
pertence a ninguém. Poderoso
tem também uma coisa maravilhosa: sai de casa sem carteira,
sem dinheiro, sem documentos e
sem a chave de casa, que inveja.
Pior do que ter que agüentar
dia e noite o cordão dos puxa-sacos é suportar os jornalistas, essa
raça maldita que não sai do pé;
eles querem saber se um pobre cachorrinho pegou uma carona na
Kombi, que jóias a mulher está
usando, qual a cor de esmalte,
quantos minutos fica na esteira,
e uma vez saiu publicada a foto
da sola do sapato de um poderosíssimo, mostrando que estava
precisando de uma boa meia-sola, vê se pode.
Jornalista quer saber sobretudo
do que não pode, e é a raça mais
indiscreta do mundo. Uma vez,
há muito tempo, foram remexer
até nas latas de lixo dos poderosos
de Brasília para saber o que eles
comiam, e foi aí que nasceu a palavra mordomia, lembra?
E eles são sempre do contra: se o
poderoso é simpático, é demagogia, se é mau humorado, vai ser
antipatizado pela classe, não pode ter um amigo da imprensa
porque os outros todos vão virar
inimigos, se for culto, é porque é
culto, se for ignorante, é porque é
ignorante. Não custa lembrar que
"lá" as coisas são ainda piores,
pobre Clinton. Para um poderoso
não há paz: beber seu santo
uísque para relaxar, nem pensar
-pobre Lula.
E quando vejo Marisa Letícia
-pobre dela- sempre vestida de
terninho, rindo, que não perde
uma cerimônia oficial sem jamais
ter dito uma só palavra -alguém
já ouviu o som da voz de Marisa?-, fico imaginando que ela
seria muito mais feliz naquela
hora se estivesse na cozinha fazendo um bolo.
Pensando bem, não há nada
pior do que ser poderoso, pobres
deles.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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