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OBRA FARAÔNICA
Prefeito de Paulínia vai gastar valor equivalente ao Orçamento deste ano em reforma que inclui "manto de cristal"
Após portal futurista, cidade terá pirâmide
FERNANDA BASSETTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS
A Prefeitura de Paulínia (126 km
de SP) vai gastar com as obras de
revitalização do centro e as construções de uma rodoviária-shopping e de um novo portal temático na entrada da cidade R$ 153
milhões, quase o total gasto em
um ano com as secretarias de saúde e educação ou cerca da metade
do Orçamento previsto para 2004.
Só com a obra do manto de cristal -espécie de pirâmide de vidro que encobrirá a Igreja São
Bento-, serão gastos R$ 98 milhões. A saúde, considerada área
essencial do governo, tem disponível para 2004 R$ 50 milhões.
Com uma altura equivalente à
de um prédio de dez andares, mezanino para exposições, mirante e
elevador panorâmico, além de
um estacionamento subterrâneo
com capacidade para cem veículos, a pirâmide terá ainda uma catacumba para guardar as cinzas e
os ossos dos párocos que atuam
ou já atuaram na cidade, como
forma de homenageá-los.
A obra da rodoviária-shopping
já está em fase de conclusão e custou R$ 55 milhões aos cofres públicos -R$ 10 milhões a mais que
o Orçamento anual da Prefeitura
de Nova Odessa, cidade do mesmo tamanho de Paulínia. Além da
rodoviária, o local abriga um
complexo de 60 lojas, hipermercado, salas de cinema e café-bar.
Outra obra que começa ainda
neste semestre será a construção
de um novo portal para a entrada
da cidade, que custará R$ 1,4 milhão. Paulínia já tem quatro portais temáticos nas principais vias
de acesso: medieval, futurista, colonial e harmonia.
O novo portal será o egípcio,
com custo de R$ 1,4 milhão. Ele
terá duas colunas laterais e uma
central, com imagem egípcia.
O valor investido na construção
do novo portal é bem superior ao
que deverá ser investido neste ano
no departamento de gestão ambiental da cidade: R$ 890 mil.
A inspiração para realizar e desenvolver tais obras é fruto da
imaginação do próprio prefeito
Edson Moura (PMDB), segundo
sua assessoria de imprensa.
"Ele imagina e cria todas as suas
obras. É um inventor. Ele passa
tudo rascunhado detalhadamente
para o arquiteto, que só coloca a
idéia do prefeito no papel", conta
o presidente da Câmara, Jaime
Donizete Pereira (PMDB), afilhado político do prefeito.
Problemas
Com um Orçamento anual de
R$ 350 milhões e IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano) de
0,847 -um dos mais altos do Estado-, Paulínia não veria polêmica nas obras suntuosas do prefeito se na cidade não existissem
problemas sociais.
Com 51 mil habitantes, o município tem um déficit de 3.500 moradias. Pelo menos quatro bairros
não têm asfalto. Há um déficit de
500 vagas nas creches. Todo esgoto do município é despejado sem
tratamento no rio Atibaia.
A Folha procurou pelo prefeito
por duas semanas, mas foi informada que só a assessoria de imprensa se pronunciaria. Moura,
que está em seu segundo mandato (o primeiro foi de 1993 a 1996),
raramente concede entrevistas.
O prefeito também não autorizou os secretários da administração a conversar com a Folha.
Além de colecionar obras faraônicas, Moura transforma alguns
de seus atos em espetáculo.
Em março deste ano, por exemplo, o prefeito determinou que o
expediente dos servidores públicos municipais fosse encerrado às
15h e pediu que todos se dirigissem a um centro de eventos na cidade sem comentar o motivo do
encontro. "Chegando lá descobrimos o motivo. Ele queria anunciar um abono de mais R$ 500 para todos os servidores. Assim ele
ganha a simpatia das pessoas",
disse o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Paulínia, Vonei Amorim.
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