|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Hospital ligado à USP veta parteiras da USP Leste
Cinco estagiárias do curso de parteiras foram dispensadas no segundo dia de atividade
Estudantes dizem que pressão da chefia da ginecologia da Faculdade de Medicina, que é parceira do hospital de Sapopemba
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Cinco universitárias do quarto ano do curso de parteiras da
USP Leste foram dispensadas
do hospital estadual de Sapopemba no segundo dia de estágio. Motivo: suposta pressão da
chefia da ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Medicina
da USP, que seria contra a atuação das parteiras. O Sapopemba é gerenciado pelo Hospital
das Clínicas, por meio da Fundação Faculdade de Medicina.
O titular de ginecologia e
obstetrícia da Faculdade de
Medicina, professor Marcelo
Zugaib, nega (leia texto abaixo).
"Eu não as conheço."
O curso de graduação em
obstetrícia da USP Leste -único do Brasil- forma parteiras,
também chamadas obstetrizes.
São profissionais que atuam de
forma autônoma orientando a
grávida, ajudando no parto normal e no pós-parto. Podem trabalhar em hospitais e em partos domiciliares.
A profissão de parteira ainda
é vista com desconfiança -e até
com desprezo-por muitos
obstetras que entendem o parto como um procedimento médico. Eles só admitem a atuação
de enfermeiras-obstétricas
-enfermeiras que obtém o título depois de um curso de especialização em obstetrícia-
sob supervisão médica.
Na avaliação das estagiárias
do Sapopemba (zona leste de
SP), essa teria sido a causa para
o rompimento do estágio, que
iria até o final do ano. A turma
de parteiras da USP Leste é
composta por 45 alunos, sendo
41 mulheres.
As alunas já passaram por estágios em outras maternidades
com tradição em parto humanizado, como o Amparo Maternal, ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo),
hospital geral de São Mateus e o
hospital Santa Marcelina. O
convênio de estágio entre a
USP Leste e o Sapopemba foi
assinado no início deste ano.
Segundo Carla de Almeida
Vieira Azenha, 46, representante dos alunos do curso de
obstetrícia, na última quarta,
ao chegarem para estagiar no
hospital de Sapopemba, ela e
outras quatro estudantes foram avisadas de que o convênio
de estágio havia sido cancelado.
"A funcionária do hospital
nos informou que isso ocorreu
por solicitação do professor
Marcelo Zugaib", relata Carla.
Ainda segundo ela, Zugaib teria
condicionado a permanência
da sua equipe médica no hospital -por ser administrado pelo
HC, o Sapopemba tem ginecologistas e enfermeiras que são
subordinados a Zugaib- à saída das parteiras-estagiárias.
Ontem, a Folha confirmou
com representantes do Sapopemba que houve ingerência
de Zugaib para o cancelamento
do convênio. O médico nega.
(leia texto nesta página).
A direção da Escola de Artes,
Ciências e Humanidades da
USP Leste -a qual o curso de
obstetrícia é vinculado- informou que fora surpreendida
com o fim do convênio de estágio e que havia solicitado informações ao hospital de Sapopemba sobre os motivos do
cancelamento, mas até ontem
não obteve resposta.
O diretor da Faculdade de
Medicina da USP, Marcos Boulos, disse ontem, por meio da
assessoria de imprensa, que
não sabia do assunto, que iria
se inteirar sobre ele e se manifestaria na próxima segunda. A
Secretaria de Estado da Saúde
também informou que desconhecia a polêmica.
"É preconceito. Já estávamos esperando por isso. Estão
indo contra tudo o que se preconiza em humanização no
parto. Não conseguem enxergar que uma equipe obstétrica
pode ter médico, enfermeira e
parteira", afirmou a aluna
Bianca Alves Amaral, 24, que
integra o grupo dispensado.
Texto Anterior: Passeata estudantil causa 2,6 km de lentidão na Paulista, diz CET Próximo Texto: Saiba mais: Parteiras eram formadas em curso de medicina Índice
|