São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2008

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Minha área é a construção civil, diz traficante

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE, NO RIO

Descontraído, calmo e falando baixo, Beira-Mar riu bastante e interagiu com conhecidos durante as quatro horas de seu tumultuado julgamento no Rio. A condenação foi um detalhe numa audiência marcada por gargalhadas, bate-bocas, toques de celular e até a expulsão de uma pessoa.
Por várias vezes durante a sessão, Beira-Mar riu e gesticulou para conhecidos. Fez um gesto circular em volta da barriga apontando para dois amigos. "Ele disse que a gente engordou", contou um deles, que não quis se identificar.
O primeiro momento de descontração do julgamento aconteceu quando o traficante respondeu à juíza Maria Angélica Guerra Guedes sobre qual era sua profissão: empresário, do ramo de construção civil.
Ouviram-se risos, embora ainda tímidos, no plenário, que ficou lotado durante as quatro horas do julgamento.
Cerca de 20 minutos depois, um toque de celular com o hino do Flamengo interrompeu a fala do promotor Luciano Lessa dos Santos.
A juíza chamou a atenção do usuário do aparelho, que desculpou-se. "Nada contra o hino", afirmou Guedes. Beira-Mar riu.
Três minutos depois, porém, um outro celular tocou, despertando indignação da juíza, que se levantou e passou um sermão na platéia.
"Vocês não estão na casa do pai nem da mãe de vocês, estão na casa da Justiça. Isso é um desrespeito. Se tocar de novo, vou mandar esses policiais [federais] apreenderem", afirmou Guedes.
Mas foi justo do bolso de um dos policiais que veio o terceiro toque, de uma música pop. Com as mãos ocupadas na metralhadora que segurava, o policial saiu da sala apressado, sob o olhar de reprovação da juíza, que nada falou. "Isso é uma sabotagem", protestou o promotor, que foi novamente interrompido.
Após o episódio, os policiais federais ficaram imóveis até as 13h45, quando começaram a se movimentar. Faziam, um para o outro, gestos em alusão à hora do almoço, que passava despercebida na sessão.
Pouco antes disso, Beira-Mar pediu para se retirar do julgamento. Foi almoçar, de acordo com um dos policiais, e ficou fora por mais de 40 minutos.
O promotor e o advogado de Beira-Mar, Francisco Santana, protagonizaram discussões que arrancaram risos, inclusive da juíza e do traficante.
Durante a fala do advogado, que tentava convencer o júri de que as provas não eram válidas, o promotor interrompeu, contestando a tese de Santana.

"Magoei"
Após baterem boca, o advogado disse que Santos "não sabe o que quer" e virou de costas. Com ironia, Santos disse: "Magoei", e saiu da sala, sob gargalhadas da platéia.
Um homem que assistia à sessão disse, em voz alta, que a situação não era engraçada, e a juíza, irritada, exigiu que ele fosse retirado. "O riso te incomoda?", indagou a juíza.
O homem foi a única pessoa expulsa da sessão, apesar das ameaças da juíza e das brincadeiras dos policiais que, na entrada, diziam: "Hoje só entra quem estiver de vermelho [em alusão à facção criminosa Comando Vermelho, da qual, segundo a polícia, Beira-Mar faz parte]".


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