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SUELY SOUZA DE ALMEIDA (1956-2008)
A mulher contra a "violência silenciosa"
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Ela adorava o outono de
Paris e seus dias claros e frescos", mas vivia no Rio -e assim, era a rotina de sofrimento e lamento das cariocas que ela levava para casa.
"Mulheres cotidianamente
espancadas, que não podiam
sair do círculo de violência
por depender do marido",
conta o viúvo. A elas, com
suas pesquisas, Suely de Almeida dedicou toda a vida.
Nascida e crescida no Rio,
filha de um restaurador de
móveis antigos e de uma funcionária da prefeitura, Suely
cresceu numa casa pobre em
leituras -menos a de jornais,
por meio dos quais aprendeu
a ler, tinha lá seus cinco anos.
Estudou em escola pública
e na universidade pública fez
serviço social; diz o marido
que por acaso. "Queria fazer
economia ou jornalismo."
Passou então em um concurso público e foi trabalhar em
Brasília. Não gostou, voltou e
continuou as pesquisas no
Rio. Aí já sabia: estudaria a
violência contra a mulher.
Em 1984 virou professora
da UFRJ. Fez mestrado e
doutorado. E pesquisou a
"violência silenciosa" contra
mães e filhas, namoradas,
netas e sobrinhas, em conversas dilacerantes nas delegacias especializadas do Rio.
Para abstrair, lia poesia e
visitava Paris -lá bebia vinhos que adorava nos bistrôs
em ruas antigas, com seus
vestidos soltos, tubinhos básicos e sorriso franco de
"quem superava a timidez",
diz o viúvo. Tinha dois filhos.
Morreu no último sábado, de
câncer; uma semana depois
de fazer 52 anos.
obituario@folhasp.com.br
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