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DANUZA LEÃO
Será?
Dois adolescentes mortos; foi um crime brutal, os
assassinos confessaram, parece
não haver nenhuma dúvida
quanto à autoria.
O país está chocado, todos os
pais e mães de jovens sofreram
pensando que a tragédia poderia
ter acontecido em suas famílias, e
durante muito tempo esses pais e
mães vão ficar apavorados a cada
vez que um filho ou uma filha saírem de casa a qualquer hora do
dia, mesmo que seja para ir à escola ou ao cinema.
O tempo vai passar, ninguém
pode acorrentar os filhos em casa,
a vida vai continuar, e o medo
também, e durante muito tempo
-aquele medo que se segura em
silêncio, para não atrair as coisas
ruins.
A imprensa tem o dever de informar, e a humanidade, de um
modo geral, gosta de saber das
coisas mais hediondas -e quanto mais detalhes, melhor; mas às
vezes os fatos são brutais demais.
Para que o processo siga, será
necessário saber de quem foi a
idéia, como os crimes foram cometidos, de quem era a arma.
Mas fico pensando nos pais de
Liana e Felipe; será que eles lêem
os jornais? A partir daí, uma série
de perguntas vem à minha cabeça, perguntas para as quais não
consigo encontrar respostas.
Será que eles estão acompanhando as investigações? Será
que precisam mesmo saber de toda a verdade, de como as coisas se
passaram? Será que precisam da
ajuda da imprensa para saber do
que já tinham imaginado, do medo, do terror de ver dois jovens
nas mãos de cinco tarados? Será
que certas descobertas feitas pela
polícia precisam ser reveladas
com tanta crueza ao mundo?
É claro que passou pela cabeça
de todos que estão acompanhando os fatos que eles poderiam ter
sido ainda mais brutais do que
apenas -apenas!- o tiro e as facadas. Mas a não ser nas delegacias, onde essas coisas acontecem
todos os dias, os que olhavam a
foto de Liana e sabiam que ela tinha sobrevivido mais três ou quatro dias que o namorado pensavam no horror, mas afastavam o
pensamento, tão doloroso ele era.
Não se pode mudar o que aconteceu, os criminosos precisam ser
punidos. Mas será mesmo preciso
revelar -e estremeço só de pensar no que pode vir por aí- o que
se passou com uma menina de 16
anos num cativeiro com cinco
monstros? Será que a polícia, o
ministro da Justiça, a imprensa,
não poderiam pensar por um minuto que fosse nos pais dessa menina, antes de contar em detalhes
o que se passou? Essa falta de
compaixão para mim é um crime,
e me pergunto se esses detalhes do
horror não deveriam ficar sob segredo de Justiça.
Para os pais de quem perdeu o
filho ou a filha, o que interessa saber quem apertou o gatilho, de
quem foi a idéia de abusar da menina? Não tem essa de um deles
pegar cinco anos a mais de cadeia
porque era o dono da espingarda
ou da faca e outro cinco a menos
porque não estava presente na
hora da execução: são todos
igualmente culpados. Mas será
preciso ver as armas do crime nas
fotos e na televisão, as roupas dos
criminosos, lembrar dos filhos e
saber, vendo a cara dos criminosos, o que cada um fez e não conseguir não imaginar a cena?
Será que é mesmo preciso? Será?
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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